1. O governo de Sócrates é um cuidado exercício de equilíbrio entre o necessário distanciamento do guterrismo e a satisfação PS, por um lado, e entre a militância partidária e os independentes, por outro.
2. Oito independentes num governo de 16 pastas é uma boa proporção. Com uma maioria confortável, Sócrates podia escolher satisfazer o PS sem amarras à opinião pública ou escolher satisfazer a opinião pública sem amarras ao PS. Escolheu a segunda e fez bem.
3. O guterrismo não voltou ao poder. Há alguns ex-governantes de Guterres neste governo, mas, apenas três anos depois, isso era mais do que provável. Mas não estão lá os pesos-pesados do despesismo guterrista. E isso é bom.
4. A maior parte dos escolhidos são politicamente desconhecidos. São por isso uma incógnita. Tanto do ponto de vista do seu "jeito para a política" como do ponto de vista do seu "jeito para as políticas". Mas é bom não esquecer que num governo, o peso do primeiro-ministro é determinante e, em boa parte, é ele que determina o seu próprio peso: "leve" como Guterres ou "pesado" como Cavaco. Tal como a feitura do Governo, também isso está inteiramente nas mãos de Sócrates.
5. Não o conheço, mas à esquerda o novo ministro das finanças foi acusado de ser liberal. E isso é bom. As propostas de Sócrates em campanha e a tutelar influencia do aparelho PS faziam prever despesas incontroladas. Este pode por isso ser um indício positivo. Ténue, mas positivo.
6. Freitas do Amaral é um erro. Não por ele, que tem certamente competência e estatura para o cargo (se calhar até tem demais). Mas porque será impossível que sobre ele não paire a suspeita de negociata privada de apelo ao voto a troco de um "tacho" no governo. Freitas é o único ministro deste governo que parte para o cargo debilitado.
7. A par de Freitas, a falta de Vitorino e, em menor grau, de Constâncio, e, ainda em menor grau, de Coelho, será o principal tema de crítica da oposição. Mas não creio que essa seja a imagem que passa para a opinião pública. Sobretudo se Vitorino aparecer como candidato presidencial e Constâncio ficar no Banco de Portugal. De Coelho, toda a gente agradecerá que ninguém se lembre.
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