Um leitor da Grande Reportagem lembra que Manuel Maria Carrilho “não olha a meios para atingir os fins: forçou a saída de Rui Vieira Nery de secretário de estado da cultura porque lhe fazia sombra; considera Guterres um ‘beato, lânguido, insuportavelmente desresponsabilizante’. O mesmo Guterres que os socialistas queriam como candidato a Belém. E compara Sócrates a Santana Lopes na ‘falta de cultura e impreparação ideológica’. O mesmo Sócrates que dá o aval para que Carrilho seja o candidato do PS a presidente da Câmara de Lisboa. Resta a lucidez de António Barreto, contra quem Carrilho moveu um processo-crime por difamação, por ter feito do ‘novo príncipe’ o retrato mais lúcido e incisivo da criatura: ‘Um pavão de província’. Posto isto, resta alertar os lisboetas para o que aí vem. E Sócrates para que se cuide.”
Obviamente, os sublinhados são meus. Não conheço as atribuições de declarações e portanto não as posso confirmar ou desmentir, mas parece-me que com Manuel Maria Carrilho estamos a assistir ao início de algo. A forma como se impôs para Lisboa revela argúcia política e as polémicas que recordamos do seu tempo na Cultura indiciam vontade de protagonismo. Mas Carrilho é também um estilo de político que não existe em Portugal. É um espécime novo. Comparável a Santana, é verdade, mas suficientemente diferente dele para que, avisado contra os santanismos, o PS permita a sua ascenção. Carrilho tem mais classe e mais cultura política. Cuida da sua imagem como um artista, mas fá-lo com mais refinamento. Mas Carrilho tem menos lastro e é um loner da política. Irá usar o partido sempre que dele precisa, mas os seus projectos serão pessoais. Chegado ao patamar camarário, o “pavão” vai começar a olhar mais alto. Sócrates foi inteligente em dar-lhe a câmara, mas será ainda mais inteligente se continuar a controlar atentamente a situação. Porque este “pavão” exubera ambição.
Tese + Antítese = Síntese. Espaço de reflexão sobre a actualidade. Media, política e jornalismo.
domingo, abril 24, 2005
Bombeiros vão a Fátima pedir reforço de meios
Não sei qual é a influência da "redacção" na "construção" desta notícia, mas, feita essa ressalva, apetece dizer que ainda há notícias que nos surpreendem...
E agora? O que vai fazer Paulo Portas?
Há uma pergunta que certamente assaltou todos os congressistas, mas que, que eu tenha dado por isso, nenhum se atreveu a verbalizar: “porque razão se demitiu Paulo Portas?”
Era já claro na noite das eleições que a tomada de posição de Portas era excessiva. Tornou-se evidente nos agonizantes dias seguintes que ninguém no partido estava preparado para lidar com essa situação. E foi-se convertendo numa evidência até ao Congresso a ideia, repetida no conclave, de que, na realidade, ninguém queria que Portas se fosse embora e poucos (se alguns) seriam capazes de pedir a sua cabeça pelo desastroso resultado eleitoral.
A forma como Portas saiu, magnânimo e “vitorioso” (o seu discurso de sábado é mais uma daquelas peças notáveis de que sentirá falta quem gosta de política), reforçou esse sentimento. Por isso, a pergunta que se impõe, ainda não respondida, é essa: “e agora, o que vai fazer Paulo Portas?”.
Paulo Portas deve compreender que para os militantes populares, esta não é uma questão encerrada. Portas deve entender que os seus partidários ainda não entenderam porque razão os abandonou. Portas deve perceber que os seus correligionários não aceitarão que, como Durão, Portas os deixe à deriva para poder ir ocupar um lugar bem pago onde quer que seja. Por incrível que pareça, há hoje muitos olhares cravados em Paulo Portas.
Era já claro na noite das eleições que a tomada de posição de Portas era excessiva. Tornou-se evidente nos agonizantes dias seguintes que ninguém no partido estava preparado para lidar com essa situação. E foi-se convertendo numa evidência até ao Congresso a ideia, repetida no conclave, de que, na realidade, ninguém queria que Portas se fosse embora e poucos (se alguns) seriam capazes de pedir a sua cabeça pelo desastroso resultado eleitoral.
A forma como Portas saiu, magnânimo e “vitorioso” (o seu discurso de sábado é mais uma daquelas peças notáveis de que sentirá falta quem gosta de política), reforçou esse sentimento. Por isso, a pergunta que se impõe, ainda não respondida, é essa: “e agora, o que vai fazer Paulo Portas?”.
Paulo Portas deve compreender que para os militantes populares, esta não é uma questão encerrada. Portas deve entender que os seus partidários ainda não entenderam porque razão os abandonou. Portas deve perceber que os seus correligionários não aceitarão que, como Durão, Portas os deixe à deriva para poder ir ocupar um lugar bem pago onde quer que seja. Por incrível que pareça, há hoje muitos olhares cravados em Paulo Portas.
CDS e PP: a convivência não traumática de dois partidos de direita
Tal como o PPD/PSD, também o CDS-PP contém em si dois partidos distintos que sob uma liderança forte se unificam (qualquer seja a "tendência" dessa liderança) e perante uma liderança fraca (ou inexistente) se confrontam, com mais ou menos "sangue". No congresso do PP a confrontação foi de luva branca.
O CDS é o partido fundador do CDS-PP, centrista, democrata-cristão, socialmente activo. O PP, "incrustado" à força no CDS pela dupla Monteiro/Portas, é um partido de direita, economicamente liberal e ocasionalmente populista. Fazendo a fusão da sua génese, os dois partidos convivem no lado direito do espectro político, ora posicionando-se à direita quando o PSD é centrista, ora mais ao centro quando o PSD assume matizes mais liberais. Do ponto de vista programático, conciliam, nas calmas, o liberalismo económico com o voluntarismo social (populista ou não). A maior parte das discussões internas têm girado à volta do posicionamento do partido no espectro partidário: mais ao centro ou mais assumidamente à direita; sendo que na maior parte das vezes essa discussão surge “mascarada” de uma espécie de confronto velho-novo: o CDS é o partido “velho”, o PP é o partido “novo”.
Essa dicotomia tem a sua razão de ser histórica: o CDS é um partido maduro, tão maduro que já deve estar a avaliar as próprias razões de sua existência num país político tão diferente daquele que lhe deu origem. O desaparecimento de alguns dos seus líderes históricos, culminado pela traumática “conversão de esquerda” do seu fundador, contribui certamente para esse sentimento.
O PP, por seu lado, surgiu historicamente só quando historicamente podia surgir, ou seja, quando a direita “a sério” sentiu que era seguro afirmar-se em Portugal. Ora, saído de uma longa ditadura de direita conservadora com os seus correspondentes excessos de extrema-esquerda, Portugal não tem ainda a direita que virá a ter. O país é ainda, em muitos aspectos, “anormalmente” de esquerda e portanto a direita tem ainda muito por onde crescer, tanto do ponto de vista programático como do ponto de vista da base social de apoio.
Foi por isso que estranhei a ausência de sucessores para inesperada debandada de Portas, ainda assim atribuível à surpresa da situação e ao efeito-eucalipto de Portas. Porque a verdade é que o PP ainda não parou de crescer. O seu espaço, seja ele actualmente do CDS ou parcialmente do PPD, está ainda em parte por ocupar. Por isso, a médio prazo, a liderança do CDS-PP é um posto político atraente. Bem mais atraente do que a do PPD-PSD, cuja confrontação interna é mais "sangrenta" e cujo "espaço vital" é menos potencial.
Ribeiro e Castro está evidentemente mais próximo do CDS e do legado dos fundadores, enquanto que Telmo Correia está mais próximo do PP de Portas. A escolha do primeiro no Congresso significa que, tal como o PSD, o CDS-PP regressa à toca dos seus fundamentos para lamber as feridas antes de voltar a pôr as garras de fora. Mas quando o voltar a fazer, voltará a ser, tal como com Portas, com os argumentos da direita liberal contra um país à esquerda. Se calhar até então mais “liberal” do que no passado.
O CDS é o partido fundador do CDS-PP, centrista, democrata-cristão, socialmente activo. O PP, "incrustado" à força no CDS pela dupla Monteiro/Portas, é um partido de direita, economicamente liberal e ocasionalmente populista. Fazendo a fusão da sua génese, os dois partidos convivem no lado direito do espectro político, ora posicionando-se à direita quando o PSD é centrista, ora mais ao centro quando o PSD assume matizes mais liberais. Do ponto de vista programático, conciliam, nas calmas, o liberalismo económico com o voluntarismo social (populista ou não). A maior parte das discussões internas têm girado à volta do posicionamento do partido no espectro partidário: mais ao centro ou mais assumidamente à direita; sendo que na maior parte das vezes essa discussão surge “mascarada” de uma espécie de confronto velho-novo: o CDS é o partido “velho”, o PP é o partido “novo”.
Essa dicotomia tem a sua razão de ser histórica: o CDS é um partido maduro, tão maduro que já deve estar a avaliar as próprias razões de sua existência num país político tão diferente daquele que lhe deu origem. O desaparecimento de alguns dos seus líderes históricos, culminado pela traumática “conversão de esquerda” do seu fundador, contribui certamente para esse sentimento.
O PP, por seu lado, surgiu historicamente só quando historicamente podia surgir, ou seja, quando a direita “a sério” sentiu que era seguro afirmar-se em Portugal. Ora, saído de uma longa ditadura de direita conservadora com os seus correspondentes excessos de extrema-esquerda, Portugal não tem ainda a direita que virá a ter. O país é ainda, em muitos aspectos, “anormalmente” de esquerda e portanto a direita tem ainda muito por onde crescer, tanto do ponto de vista programático como do ponto de vista da base social de apoio.
Foi por isso que estranhei a ausência de sucessores para inesperada debandada de Portas, ainda assim atribuível à surpresa da situação e ao efeito-eucalipto de Portas. Porque a verdade é que o PP ainda não parou de crescer. O seu espaço, seja ele actualmente do CDS ou parcialmente do PPD, está ainda em parte por ocupar. Por isso, a médio prazo, a liderança do CDS-PP é um posto político atraente. Bem mais atraente do que a do PPD-PSD, cuja confrontação interna é mais "sangrenta" e cujo "espaço vital" é menos potencial.
Ribeiro e Castro está evidentemente mais próximo do CDS e do legado dos fundadores, enquanto que Telmo Correia está mais próximo do PP de Portas. A escolha do primeiro no Congresso significa que, tal como o PSD, o CDS-PP regressa à toca dos seus fundamentos para lamber as feridas antes de voltar a pôr as garras de fora. Mas quando o voltar a fazer, voltará a ser, tal como com Portas, com os argumentos da direita liberal contra um país à esquerda. Se calhar até então mais “liberal” do que no passado.
Tudo sobre os blogues
Do mainstream, a Bussiness Week faz tema de capa com o passado, presente e futuro dos blogues. O artigo é extensivo e merece uma visita. Cortesia de Dan Gillmor. Mais um sinal de que o mundo empresarial não está a dormir.
sábado, abril 16, 2005
Nós, os media
O livro de Dan Gillmor "We the media", com tradução recente na Presença com o título "Nós, os media", tem sido referido em vários blogues, mas tem permanecido relativamente restrito aos blogues que tratam sobretudos das questões do jornalismo e dos novos media. E o livro merece mais do que isso. É certo que o autor é um "insider" que fala da sua experiência de bloguista (é assim?) e citizen journalist; é certo que fá-lo com inúmeros detalhes técnicos e montes de referências a outros insiders. Mas aquilo de que trata não é do jornalismo ou new media. Aquilo de que este livro trata é da evolução da sociedade. Por isso tem toda a razão quem já o comparou a "A terceira vaga" de Alvin Toffler. Obviamente recomendo a leitura. Sem tecnicidades.
sexta-feira, abril 15, 2005
Importa-se de repetir?
“Este é o jogo ideal para regressarmos aos bons resultados, não por ser o Benfica, mas por ser o próximo”
Alhandra, jogador da União de Leiria, às 22.48h, na SportTv
“Por isso este é o jogo ideal a seguir, não por ser o próximo, mas por ser o Benfica”
Alhandra, jogador da União de Leiria, às 22.49h, na SportTv
Alhandra, jogador da União de Leiria, às 22.48h, na SportTv
“Por isso este é o jogo ideal a seguir, não por ser o próximo, mas por ser o Benfica”
Alhandra, jogador da União de Leiria, às 22.49h, na SportTv
Uma noite mágica!
Há uns anos José Roquette disse que nos 5 anos seguintes, o Sporting seria campeão 3 vezes. Logo na altura achei que a afirmação não era gratuita ou leviana. Mas entretanto chegou Mourinho e alterou a lógica das coisas. Que agora volta lentamente ao seu encadeamento normal. Isto não é fruto do acaso: a academia, a gestão profissional, o estádio, o equilíbrio financeiro possível são os elementos de racionalidade a que podemos recorrer para pôr ordem no caos no qual se move uma bola entre quatro linhas. Nesse caos hoje os mágicos foram os jogadores, o treinador e o público (o português e o inglês). Estão todos de parabéns!
quinta-feira, abril 14, 2005
O cúmulo da ironia
.
O cúmulo da ironia não é:
O cumulo da ironia é:
O cúmulo da ironia não é:
"Life's a bitch and then you die"
O cumulo da ironia é:
"Life's a bitch and then you don't die"
sábado, abril 09, 2005
Não é só em Portugal...
A General Motors cancelou toda a sua publicidade no Los Angeles Times por não concordar com os testes e notícias publicado sobre a empresa. (cortesia do Ponto Media).
History on the making...
Descubro através do ecuadernos, que o revolucionário OhMyNews, um jornal online feito pelos seus leitores, exemplo do chamado citizen journalism, o vai abrir-se ao mundo. Pode ser o princípio de algo que não sabemos bem o que será… Mas vale a pena acomponhar ou até participar.
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