domingo, abril 24, 2005

CDS e PP: a convivência não traumática de dois partidos de direita

Tal como o PPD/PSD, também o CDS-PP contém em si dois partidos distintos que sob uma liderança forte se unificam (qualquer seja a "tendência" dessa liderança) e perante uma liderança fraca (ou inexistente) se confrontam, com mais ou menos "sangue". No congresso do PP a confrontação foi de luva branca.
O CDS é o partido fundador do CDS-PP, centrista, democrata-cristão, socialmente activo. O PP, "incrustado" à força no CDS pela dupla Monteiro/Portas, é um partido de direita, economicamente liberal e ocasionalmente populista. Fazendo a fusão da sua génese, os dois partidos convivem no lado direito do espectro político, ora posicionando-se à direita quando o PSD é centrista, ora mais ao centro quando o PSD assume matizes mais liberais. Do ponto de vista programático, conciliam, nas calmas, o liberalismo económico com o voluntarismo social (populista ou não). A maior parte das discussões internas têm girado à volta do posicionamento do partido no espectro partidário: mais ao centro ou mais assumidamente à direita; sendo que na maior parte das vezes essa discussão surge “mascarada” de uma espécie de confronto velho-novo: o CDS é o partido “velho”, o PP é o partido “novo”.
Essa dicotomia tem a sua razão de ser histórica: o CDS é um partido maduro, tão maduro que já deve estar a avaliar as próprias razões de sua existência num país político tão diferente daquele que lhe deu origem. O desaparecimento de alguns dos seus líderes históricos, culminado pela traumática “conversão de esquerda” do seu fundador, contribui certamente para esse sentimento.
O PP, por seu lado, surgiu historicamente só quando historicamente podia surgir, ou seja, quando a direita “a sério” sentiu que era seguro afirmar-se em Portugal. Ora, saído de uma longa ditadura de direita conservadora com os seus correspondentes excessos de extrema-esquerda, Portugal não tem ainda a direita que virá a ter. O país é ainda, em muitos aspectos, “anormalmente” de esquerda e portanto a direita tem ainda muito por onde crescer, tanto do ponto de vista programático como do ponto de vista da base social de apoio.
Foi por isso que estranhei a ausência de sucessores para inesperada debandada de Portas, ainda assim atribuível à surpresa da situação e ao efeito-eucalipto de Portas. Porque a verdade é que o PP ainda não parou de crescer. O seu espaço, seja ele actualmente do CDS ou parcialmente do PPD, está ainda em parte por ocupar. Por isso, a médio prazo, a liderança do CDS-PP é um posto político atraente. Bem mais atraente do que a do PPD-PSD, cuja confrontação interna é mais "sangrenta" e cujo "espaço vital" é menos potencial.
Ribeiro e Castro está evidentemente mais próximo do CDS e do legado dos fundadores, enquanto que Telmo Correia está mais próximo do PP de Portas. A escolha do primeiro no Congresso significa que, tal como o PSD, o CDS-PP regressa à toca dos seus fundamentos para lamber as feridas antes de voltar a pôr as garras de fora. Mas quando o voltar a fazer, voltará a ser, tal como com Portas, com os argumentos da direita liberal contra um país à esquerda. Se calhar até então mais “liberal” do que no passado.

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