Poderá dar-se o caso de Cavaco achar que este governo está a governar BEM!?
Cavaco tinha todas as razões para fazer um discurso crítico. O seu programa eleitoral, a sua base social de apoio, a sua base política de apoio, a conjugação de vários relatórios internacionais, a contestação social, todas as "pontas soltas" teriam podido servir a Cavaco para "mandar recados" ao Governo. No entanto, ele nada fez, quando toda a gente achava que era hoje, 25 de Abril, que ele se ia "assumir". Se houvesse um verdadeiro jornal de direita em Portugal ele amanhã devia titular, com toda propriedade, "A Desilusão Cavaco".
Pode-se especular sobre as razões para o mutismo do Presidente (na verdade, de relevante o longo discurso nada disse). Haverá explicações mais ou menos complexas e elaboradas, tanto da esquerda como da direita. Mas há uma terceira hipótese, centrista: que é a de Cavaco estar intimamente convencido de que, dadas as circunstâncias, este governo está a governar bem.
E o que faria Cavaco se estivesse intimamente convencido disso? Faria um discurso crítico do Governo para agradar à sua base eleitoral, ao centro-direita que o elegeu, aos partidos que o apoiam? Claro que não. Self-righteous como sempre foi e sempre será, Cavaco é incapaz de contrariar as suas convicções profundas. Por isso não criticou o Governo neste 25 de Abril. Como já muita gente tinha dito, Sócrates pode ter ganho um aliado. Mas, ainda mais interessante, se Sócrates governar bem, Cavaco pode ter ganho um problema: como estar de bem, ao mesmo tempo, com a sua consciência e com a sua base de apoio?
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