«O simplismo ideológico do pensamento dos americanos tanto pode ser uma forma salutar e instintiva de distinguir entre o bem e o mal e não hesitar no caminho, como pode ser reflexo de uma genética incapacidade para entender um mundo que não encaixe nos seus padrões primários de análise.»
Concordo com estas palavras de Miguel Sousa Tavares no Público que, parece-me, fazem um diagnóstico certo - e sem juízos de valor – da maneira americana de ver o Mundo. E, acrescentaria eu, esta é a maneira como vê o Mundo uma potência que domina sobre o mesmo. A história está cheia de exemplos de potências dominantes que também olhavam assim para os dominados (por oposição aos casos muito raros de algumas potências dominantes que revelaram historicamente uma estranha vontade de conhecer os dominados).
Por isso é que já não concordo tanto com a seguinte passagem um pouco à frente no mesmo texto:
«A incapacidade dos americanos em entenderem o mundo árabe, que é a incompreensão por toda uma civilização que está nos antípodas dos "valores" americanos, representa uma ameaça à paz tão grande quanto a resposta que suscita. E é lícito duvidar hoje se é o terrorismo que gera a resposta errática e condenada ao fracasso dos americanos, ou se é essa resposta que potencia o terrorismo.»
Esta consequência do diagnóstico anterior – que já envolve um juízo de valor - e que os pró-americanos considerariam anti-americana, é característica da maior parte da intelectualidade europeia e, embora com um fundo verdadeiro, contém também em si o algum ressentimento pelo facto de os europeus serem no fundo parte dos dominados e não dos dominantes. A política americana é criticável sob muitas formas e não tenho dúvidas de que é em si mesma um problema mundial. Mas não acho que seja «lícito» duvidar de que o terrorismo existe antes e independentemente de qualquer política americana para lidar com ele. Isso parece-me claramente um exagero característico da intelectualidade europeia.
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