Ouvi a notícia de que o EUA restringiam a participação internacional no programa de reconstrução do Iraque na TSF logo pela manhã. Confesso que a primeira reacção foi de alguma desconfiança. Também eu achei um erro a invasão do Iraque, mas também eu acho que na Europa muitas vezes deixamos que algum anti-americanismo mal recalcado (cujas razões históricas profundas merecem – e já mereceram – vários livros) nos tolde a percepção da realidade. Por isso fui à procura de uma fonte mais próxima do original para confirmar – porque me custava a acreditar – que fossem mesmo «razões de segurança dos EUA» as invocadas para impedir que empresas francesas, alemãs ou canadianas trabalhem no Iraque. E o que encontrei, no site do Washington Post, foi o próprio documento. E está lá tudo. Preto no branco. É mesmo a segurança que está em causa!
Mas a minha segunda reacção à notícia não foi de surpresa. E acho que isso já diz algo sobre a minha opinião, mesmo antes de eu mentalmente a formular. É verdade que é uma acção mesquinha por parte dos EUA, mas em política internacional este tipo que mesquinhez é a regra e não a excepção. Não tenho dúvidas que em muitas outras circunstâncias da história, outras nações vencedoras tiveram atitudes semelhantes em relação aos derrotados ou aos neutrais em conflitos passados. E se calhar, muitas vezes, com os países agora citados em lados bem diferentes das barricadas.
O que sinceramente me parece é que, na frieza da declaração americana, é de certa forma uma declaração de guerra surda que transparece. Esta guerra está ser declarada há meses, por pequenas ou não tão pequenas decisões como estas, que necessariamente se seguem a decisões originadoras de todo o processo, como foram a americana de começar a guerra e a europeia (França, Alemanha e acólitos) de não os acompanhar. Todas as restantes decisões – incluindo esta - são consequências lógicas das primeiras. Até que alguém decida inverter este processo e tomar uma decisão ilógica, mas corajosa. De um lado ou de outro. Ou a Europa engole o orgulho ou Bush é magnânimo. Se do lado europeu o eixo franco-alemão parece suficientemente sólido para resistir orgulhosamente, do outro lado a previsível reeleição de Bush quase garante uma manutenção – senão mesmo reforço – das políticas actuais. Ou seja, o futuro não augura nada de bom...
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