sexta-feira, dezembro 12, 2003

É para rir?

Há já algum tempo que não me ria ao folhear um jornal circunspecto e até um pouco “cinzentão” como o DN. É verdade que depois de ter sabido que o governo irlandês pondera proibir o fumo de tabaco nos locais públicos – logo também nos pubs (consegue-se imaginar um pub irlandês sem uma espessa nuvem de fumo?!) – já nada me devia surpreender, mas a notícia de que a UEFA vai proibir os treinadores de fumarem no banco durante os jogos é realmente de rir. Então mas se os jogos são disputados ao ar livre!! Alegadamente os treinadores servem de exemplo e então não devem dar maus exemplos durante os jogos e sobretudo durante as transmissões televisivas dos jogos.
Duas reflexões se me impõem a este propósito. Primeira: eles não são intervenientes directos nos jogo (esses são os jogadores e os árbitros) e não pedem para ser filmados. Na realidade até acredito que a maior parte deles preferisse que os não filmassem. Mais: esse é um recurso que lhes assiste. Se não podem fumar no banco por causa do mau exemplo que isso constitui, os treinadores que o queiram fazer podem sempre escrever uma carta às televisões impedindo-as de os filmarem noutra circunstância que não seja em conferências de imprensa. Parece-me que estão no seu pleno direito enquanto pessoas com direito a pôr e dispôr da sua imagem.
Segunda reflexão: ao limitar a possibilidade de uma pessoa, qualquer pessoa, ter o seu comportamento normal (e não ilegal) porque isso constitui um mau exemplo é, visto noutra perspectiva, uma forma de obrigar a pessoa a veicular o que se julga socialmente que é um bom exemplo. E isso, perdoe-se-me, é um perigoso mecanismo de conformidade social. Trata-se de obrigar as pessoas a desempenhar um papel social que por vontade própria não desempenhariam. Por vontade própria um treinador fumador não participaria em nenhuma acção, de qualquer tipo, de promoção da supressão do tabaco. Mas, de uma certa forma muito subtil, é obrigado a fazê-lo nesta situação em concreto. E a subtileza da forma como o faz – abstendo-se de fumar numa situação de stress em que habitualmente fuma - não altera a natureza do facto: trata-se de uma imposição de comportamento.
Digo eu, que não fumo.

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