sexta-feira, janeiro 28, 2005

Freitas e o centrismo

Depois de todas as divagações, especulações e delírios acerca das potenciais alianças resultantes das próximas eleições (PS+BE; PS+PCP; PS+PP; PSD+PP; PSD+PS); depois dos apelos às maiorias estáveis (Cavaco no passado e Sampaio no presente); depois das experiências do bloco central, do CDS e do projecto PRD; parece por demais evidente que o sistema político português, tal como actualmente existe, é talhado à medida de um pequeno partido de centro, um fiel da balança capaz de fazer as transições de votos esquerda-direita de eleição para eleição, posicionando-se sempre como um viabilizador de maiorias e um parceiro de governo. A questão não é se o país precisa de um tal partido, mas se existe espaço político para ele. E a resposta a esta pergunta parece-me por demais evidentemente positiva.
Por isso causaram a polémica que se viu estas posições de Freitas do Amaral acerca das próximas eleições. Não foi só pela estranheza de ver um antigo presidente do antigo CDS a apoiar o PS contra os interesses do actual PP. Toda a a gente percebeu - e o eleitorado provavelmente também - que esse espaço político existe e que, com a entourage certa, também podia ter um rosto: o de Diogo Freitas do Amaral. Pelo seu perfil e pelo seu percurso político (inteiramente coerente porque sempre centrista, mesmo quendo se clamava por um CDS à direita), Freitas do Amaral está suficientemente "maduro" para ser fundador de um novo partido. E, pelo lado pessoal, também se percebe que, apesar desse longo percurso político, Freitas acha que ainda não fechou o seu ciclo político. Depois da participação na construção do nosso sistema democrático, depois da experiência da AD, depois da experiência internacional na ONU e depois da traumática derrota eleitoral nas presidenciais, Freitas acha que ainda tem algo a dar ao país; e esse algo pode muito bem ser um partido político centrista. O espaço político está aí, o protagonista também; só falta que a entourage dê os passos ncessários para que a coisa se pareça ao menos um pouco com um vaga de fundo.

Isto é... Futebol!



Acho que nunca tinha saído tão satisfeito depois de perder um derby.

Aquele lance do Paíto teria sido o final perfeito para a saga que ontem se viveu no Estádio da Luz. Mas o futebol, assim jogado, enaltece ambas as equipas. Devia ser sempre assim. Isto é futebol!

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Três diários desportivos

São números, senhores, são números !!

Hoje serão colocados à venda os últimos ingressos: três mil (1.200 dos quais devolvidos pelo Sporting) na Luz, a partir das 9.30; 800 em Alvalade, entre as 9.00 e as 12.00.”
Record

O dérbi desta noite deve ter casa cheia, embora ainda faltem vender 3 800 ingressos. Na Luz, vão ser colocados à venda três mil bilhetes (a 10 euros para sócios e 20 para não sócios), e, em Alvalade, os restantes 800 (a 20 euros cada). Refira-se que o Sporting recebeu 5 700 bilhetes, todos para a Bancada Coca-Cola.”
O Jogo

“(…) Por isso não espanta que restem apenas vender 2000 ingressos (…).”
A Bola (sem link)

terça-feira, janeiro 25, 2005

Se a moda pega...



No Cais do Sodré alguém achou que Paulo Portas ficava melhor assim, com o ar "apalhaçado" que lhe dá esta bolinha vermelha no nariz.

À primeira vista, pensei por momentos que os AdBusters tinham subitamente atacado em Portugal a propósito das eleições. Portas até seria um alvo plausível e preferencial.

Mas um amigo disse-me que este "nariz" já apareceu em outdoors de Sócrates e de Louçã, pelo menos. A ser assim, poderemos estar perante uma vaga de fundo semelhante à descrita por Saramago no seu mais recente livro, então consumada com votos brancos. Será que vamos ver aparecer um nariz vermelho em cada outdoor de campanha?

Como isto está, um dia destes, os políticos portugueses têm uma surpresa assim...

Mourinho é o melhor do Mundo

Em quantas actividades existe um português que seja o melhor do Mundo?


P.S.- E agora? Ainda acham que é arrogante?

domingo, janeiro 23, 2005

Elogio do PP



1.
Tomara o PS e o PSD juntos conseguirem juntar uma equipa como esta. Se há partido que pode apresentar os seus quadros como trunfo, esse partido é o CDS-PP. E, como não é parvo, Paulo Portas há muito que o entendeu. A base social potencial do PP, como de qualquer partido de extrena direita, é mínuscula. Mas a sua capacidade de gerar elites é enorme. O contrário para os partidos de esquerda: têm potencialmente uma ampla social de apoio mas geram elites escassas e fracamente preparadas. O PCP é típico, o BE é atípico e por isso fica a dúvida se algum dia poderá ser um partido verdadeiramente popular.

2. Paulo Portas já entendeu que a chave nas eleições está no peso relativo das margens em relação aos centros e por isso define como prioridade ter mais votos que o BE e o PCP juntos. E apresenta isso como um "voto útil". A mensagem é complexa do ponto de vista político, mas a verdade é que está a passar com o brilhantismo de um grande comunicador que também é estratego. O PP pode ser a grande surpresa das eleições.

3. Os militantes do PP também já perceberam toda a estratégia de Paulo Portas e realizaram que não existe hoje no espectro político português - muito menos no partido - alguém com a sua capacidade de definir boas estratégias políticas e implementá-las com eficácia. Daí que vejamos nesta fotografia pessoas como Maria José Nogueira Pinto e António Lobo Xavier. Esse é o maior tributo que podiam fazer a Paulo Portas.


Miguel Sousa Tavares na blogosfera

Não sei se Miguel Sousa Tavares sabe disso, se concorda ou sequer se o deseja, mas a verdade é que, independentemente disso (!!!), está presente na blogosfera através dos posts dedicados de um admirador que reproduz as suas crónicas azuis no jornal A Bola.

Inquietude pré-eleitoral

Ser de esquerda ou de direita é responder a um simples questão:

É mais urgente tratar do défice ou minorar o sofrimento dos pobres?

O perigo amarelo




"China cannot rise peacefully, and if it continues its dramatic economic growth over the next few decades. the United States and China are likely to engage in a intense security competition with considerable potencial of war."

John J. Mearsheimer, professor de ciência política na Universidade de Chicago, em debate com Zbigniew Brzezinski, na última edição da Foreign Policy. (artigo pago)

segunda-feira, janeiro 17, 2005

A visitar...

A Newspress elegeu os melhores sites de 2004. Entre os eleitos em diversas categorias estão:

este, para quem sempre sonhou folhear o caderno de apontamento de Leonardo Da Vinci;

e neste, destaco sobretudo a parte relativa às ilusões de óptica.

domingo, janeiro 16, 2005

O triunfo dos porcos?

Provavelmente nem ela se apercebu do sentido profundo da sua própria perplexidade:

"Estou a falar com o burro e tenho quatro milhões de pessoas a olhar para mim. Isto tem de significar alguma coisa".

Júlia Pinheiro, na Quinta das Celebridades, citada pela Única, citada pela Grande Reportagem.


e


"Porca Camila ameaçada de morte"
Título de uma "notícia" do Correio da Manhã, citada na Grande Reportagem

Bush como ainda não o tínhamos visto

George Bush admitiu ter errado ao usar expressões como "Wanted, Dead or Alive" e "Bring 'em on". Foi citado pelo blog Regret the error, que descobri, mais uma vez, no Ponto Media.

Sobre o "Wanted, Dead or Alive":
"I don't know if you'd call it a regret, but it certainly is a lesson that a president must be mindful of, that the words that you sometimes say. ... I speak plainly sometimes, but you've got to be mindful of the consequences of the words. So put that down. I don't know if you'd call that a confession, a regret, something."

Sobre o "Bring 'em on"
"Sometimes, words have consequences you don't intend them to mean...Bring 'em on' is the classic example, when I was really trying to rally the troops and make it clear to them that I fully understood, you know, what a great job they were doing. And those words had an unintended consequence. It kind of, some interpreted it to be defiance in the face of danger. That certainly wasn't the case."

O que fazer com os blogs?

Através do Ponto Media do Público do último sábado descobri directamente a notícia de que Howard Dean pagou a dois bloggers norte-americanos para "insinuarem" na blogosfera as suas posições; e indirectamente (através do Periodistas 21), a notícia de que foi lançado em espanha um novo diário gratuito da Recoletos, chamado Qué!, que é feito por bloggers e numa plataforma mista em papel e online.
São duas coisas interessantes sobre a mesma coisa: o que fazer com os blogs? O número de blogs que actualmente existem, a vontade de participação na construção informativa que eles revelam e a sua aparente libertinagem, são hoje perplexidades com as quais acho que ainda não aprendemos a lidar. É inconcebível que um movimento social tão massivo e actuante como os blogs passe tão praticamente "ao lado" dos meios de comunicação social tradicionais. É esta "perplexidade" que o diário Qué! obviamente procura desmontar. Gostaria de saber resultados de um projecto tão inesperado como um jornal diário de distribuição gratuita feito com os contributos dos bloggers. E porque não uma revista semanal com "as melhores da blogosfera"; ou um programa de televisão com um painel de comentadores confrontados com os contributos online directo dos bloggers; ou uma revista mensal sobre nova poesia na blogosfera (ou então apenas uma coluna sobre "nova poesia na blogosfera" nos jornais e revistas e literatura existentes). A verdade é que os meios de comunicação tradicionais raramente tratam o fenómeno e com isso passam ao lado de um manancial de leitores que até do ponto de vista comercial os deveria interessar sobremaneira. Penso que há formas interessantes de tratar o assunto nos meios existentes ou noutros a criar. O espaço está aí para quem o quiser aproveitar.
Por outro lado, aquilo com que a notícia relativa a Howard Dean nos confronta é com a aparente impossibilidade de controlar os blogs. Isso é bom, obviamente, quando se trata da blogosfera. Mas se aceitamos a existência de regras para as diversas formas de jornalismo com que hoje convivemos, não podemos deixar de as reclamar à medida que os blogs se "institucionalizem". Claro que saber quais são essas regras é uma outra questão que transcende os blogs mas também afecta os blogs.
Se ficamos perplexos ao saber que Alberto João Jardim tem pago a sua "imagem" no O Diabo com dinheiros públicos (como descobriu a Grande Reportagem), não devemos ficar menos perplexos com as movimentação de Dean na bogosfera ou com...

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Cavaco, o recto.

Em 21 de Julho de 1994, eu e a minha mulher fizemos a nossa mais longa viagem no avião Falcon da Força Aérea: Lisboa-Moscovo. (…) A convite de Boris Ieltsin viajei no dia seguinte para Sampetersburgo para participar na cerimónia de abertura dos III Jogos da Amizade, no estádio Kirowa. (…) Há muito que eu sonhava conhecer Sampetersburgo e por isso decidi passar 24 horas na cidade. Primeiro fomos visitar o famoso Museu Hermitage, um dos maiores do mundo e com uma colecção de obras de arte verdadeiramente excepcional (…)."

Aníbal Cavaco Silva, “Autobiografia Política II”, pp. 400-401


Será uma visita a um museu mais respeitável do que um mergulho nas águas quentes de S.Tomé?

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Regime sem pactos

À atenção do Presidente, aqui fica a ideia de um participante no "Fórum TSF" de hoje:

"Portugal não precisa de um pacto de regime.
Portugal precisa é que um regime que não pactue.
"

Que não pactue com a mediocridade.
Que não pactue com a falta de profissionalismo.
Que não pactue com o servilismo.
Que não pactue com a inveja.
Que não pactue com o amadorismo.
Que não pactue com o "desenrascanço"
Que não pactue com a falta de ética.
Que não pactue com o "chico-espertismo".
Que não pactue com a pequena política.
Que não pactue com a impunidade.
Que não pactue com o "deixa andar".
Que não pactue com a indiferença.
Que não pactue com a maledicência.
Que não pactue com irresponsabilidade.
Que não pactue com o caciquismo.
Que não pactue com a fuga ao fisco.
Que não pactue com as listas de espera.
Que não pactue com o clientelismo.
Que não pactue com a falta de qualidade.
Que não pactue com a burocracia.
Que não pactue com a falta de organização.
Que não pactue com o amadorismo.
Que não pactue com a falta de informação.
Que não pactue com manobras de bastidores.
Que não pactue com a irresponsabilidade.
Que não pactue com a falta de solidariedade.
Que não pactue com a falta de qualidade.
Que não pactue com a falta de seriedade.
Que não pactue com a desonestidade.
Que não pactue com a corrupção.
Que não pactue com as "cunhas".
Que não pactue com o populismo.
Que não pactue com o tráfico de influências.
Que não pactue com o silenciamento.
Que não pactue com a indiferença.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Conheça o Mundo em que vive

A Grande Reportagem no seu melhor.















Liedson, o profissional

Que Liedson tenha chegado das férias com oito dias de atraso sem dar qualquer explicação, é grave.
Que o Sporting deixe passar o caso sem uma punição exemplar por ter medo de perder o jogador para o derby, é muito grave.
Mas, a confirmarem-se as insinuações de que Liedson procurou activamente o 5º cartão amarelo em Guimarães, numa altura em que sabia que o jogo seguinte era com o Benfica, para poder gozar um período de férias alargado, isso está para lá de muito grave. Revela uma falta de profissionalismo e de honestidade que não depende de profissões e fica mal a qualquer pessoa, mesmo a um jogador de futebol.

O BE face a um PS minoritário

"Um governo Sócrates contará com a minha crítica atenta; um mau governo, com a minha oposição frontal. A direita, no entanto, nunca encontrará aqui um aliado. Conheço os nossos adversários principais e não os confundo."
Fernando Rosas, Público 5/1/05

O que quererá isto dizer senão: se o programa de governo não contiver nada que nos seja impossível "engolir" e uma ou duas das nossas medidas forem incluidas, nós estamos dispostos a viabilizar um governo PS minoritário.

Complot...

Provedoria obriga Estado a pagar subsídio de desemprego a imigrantes

Será isto um complot contra o pacto de regime e as finanças públicas?

Sampaio contra o PS

Será que já alguém reparou como os apelos do presidente a um pacto de regime são uma pequena machadada (ou uma grande alfinetada) na estratégia do PS para as legislativas. Mais do que qualquer partido dos extremos e mais certamente do que o PSD, o PS é o grande interessado na bipolarização. Só bipolarizando Sócrates pode esvaziar os dois - dois, sublinho - partidos à sua esquerda e aspirar a uma maioria absoluta. E precisa de apontar para ela porque sabe que se não a tiver tem um problema em mãos: "para que quero eu esta maioria relativa?" Ora, sugerir a mera possibilidade de um pacto de regime (ou, pior ainda, pedi-lo) entre o PS e o PSD sobre finanças públicas e competitividade é de certa forma esvaziar de sentido a bipolarização. Sócrates precisa de tudo aquilo que separe e distinga PSD e PS e não daquilo que os torna semelhantes aos olhos dos eleitores, porque é quanto mais semelhantes parecerem as políticas dos dois partidos do centro que mais crescem os votos dos extremos.
Se isso não fosse tão auto-flagelador face a um Presidente que acabou de o demitir, até Santana Lopes já teria percebido o potencial de estratégia eleitoral que aqui se lhe depara e teria vindo a público concordar, em tese, com esse pacto, passando a “batata quente” para o lado socialista.
Felizmente Sampaio, na sua habitual confusão de ideias, não raciocinou deste modo. E não o fez por duas razões, uma formal e outra substancial. A razão formal? Porque Sampaio não age por calculismo político mas sim por espírito de missão. A razão substancial? Porque, para lá das politiquices, existe de facto um problema grave – gravíssimo – de finanças públicas e competitividade que só parece poder ser resolvido com um pacto de regime.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Pedroso pode ser candidato?

Neste momento Sócrates deve estar a meditar nesta questão. Paulo Pedroso não está inteiramente liberto do processo judicial, mas é obviamente - e incondicionalmente - inocente até prova em contrário. Resta saber se ser formalmente inocente até prova em contrário é suficiente para que um cidadão possa - ou deva - candidatar-se a um cargo político. Ou seja, resta saber se lhe basta "ser" ou se, como a mulher de César, também tem que "parecer".
Claro que devia ter partido de Pedroso a iniciativa de libertar Sócrates (ou os seus colegas de partido que não tiveram coragem de decidir) do peso desta decisão. Mas compreendamos que estamos perante um homem que luta por manter uma réstea de carreira política e -mais importante ainda - por repor a sua honra e bom nome. É difícil pedir-lhe sacrifícios.
Mas, não partindo de Pedroso essa iniciativa, Sócrates fica posto perante um dilema. Se não incluir Pedroso nas listas à AR será acusado - e com razão - de pôr em causa os direitos cívicos de um cidadão inocente. Se o incluir, será acusado - outra vez com razão - de expor a candidatura socialista ao anátema social - mesmo que só das fagulhas - de um processo tão impactante como o da Casa Pia.

Por mim, acredito - ainda - que a política não é uma profissão nem uma comissão de serviço: é uma missão. De uma vida ou de uma legislatura, mas com espírito de missão. Por isso, não deve bastar ter os direitos cívicos intactos para entrar na política: deve ser exigido ter a honra inatacável. Embora risível face ao "calibre" da actual classe política, isto é o que devemos exigir dos nossos políticos, mesmo que não o possamos afirmar de nós próprios. A direcção política de uma sociedade é algo que tem que estar no topo da escala de valoração do respectivos cidadãos. A qualidade da classe política de um país é mais importante do que a qualidade dos seus juízes, militares, dirigentes desportivos, sindicalistas ou autarcas. E o exercício da política deve acontecer em nome de princípios e valores éticos que são incompatíveis com a mais leve suspeita de incriminação. Por isso Sócrates deve ter a coragem de recusar a Pedroso um lugar nas listas de candidatos à AR. Mas deve, com a mesma coragem e o dobro da visibilidade pública, convidá-lo a retomar a sua "missão" assim que estiver definitivamente ilibado do caso Casa Pia.

Pôncio, o arruaceiro

Ninguém no seu perfeito juízo se lembraria de convidar Pôncio Monteiro para nº2 da lista de candidatos pelo Porto. E como Rui Rio tem algum juízo (pese embora a "irracionalidade" da sua presença ao lado de Santana), naturalmente, não aceitou. Pôncio Monteiro ficaria bem ao lado de Alberto João Jardim, está óptimo ao lado de Pinto da Costa e não tenho dúvidas que seria capaz de ganhar ou ajudar a ganhar eleições. Mas, em nome do decoro, nem tudo vale em política, como Rui Rio bem sabe.

Uma deslealdade de Cavaco

Bem sei que a blogosfera está toda de acordo no elogio à recusa de Cavaco em deixar-se retratar ao lado da Santana Lopes. Também acho, como já disse, que Cavaco é um dos poucos grandes estadistas da nossa democracia e o único ainda “na reserva” (os outros já nem isso). Mas, goste-se ou não, Santana Lopes é líder do PSD eleito em congresso. É primeiro-ministro com legitimidade constitucional e política. Por isso, mais do que uma deslealdade para com Santana (Cavaco não tem nenhuma obrigação nessa lealdade), a atitude de Cavaco é uma deslealdade para com o partido. O mesmo partido que lutou nas ruas para lhe dar duas maiorias absolutas e está na disposição de o ajudar a chegar à Presidência. A fotografia na qual Cavaco não quis estar é aquela que enche de orgulho os militantes anónimos, as chamadas “bases”. Cavaco pode não gostar de partidos e da “vida partidária”, como ele diz com o desdém habitual; mas nesse caso devia desvincular-se do partido e não contar com ele para as suas lutas eleitorais. Isso sim seria eticamente correcto.


A não ser que…

…Cavaco seja afinal um refinado calculista político e esteja silenciosamente a “fazer a cama” a Santana:

Santana perde as eleições com uma débacle eleitoral de proporções históricas.

O partido não lhe perdoa e exige um congresso.

Marcelo candidata-se a líder do PSD apresentando-se como o homem ideal para ser líder da oposição (não há papel que ele faça melhor).

Marcelo ganha o partido e apoia Cavaco para a presidência.

Cavaco é eleito presidente.

O que Cavaco pensa é que Marcelo estará na disposição de aceitar a presença tutelar de uma eminência parda (quem acredita que Cavaco seja capaz de ficar “quieto” na Presidência?). Mas é nisso que ele se engana. Se algum dia o cenário se materializar, Cavaco vai descobrir que Marcelo é no fundo da mesma estirpe de Portas ou Santana: uma pura enguia política.