Neste momento Sócrates deve estar a meditar nesta questão. Paulo Pedroso não está inteiramente liberto do processo judicial, mas é obviamente - e incondicionalmente - inocente até prova em contrário. Resta saber se ser formalmente inocente até prova em contrário é suficiente para que um cidadão possa - ou deva - candidatar-se a um cargo político. Ou seja, resta saber se lhe basta "ser" ou se, como a mulher de César, também tem que "parecer".
Claro que devia ter partido de Pedroso a iniciativa de libertar Sócrates (ou os seus colegas de partido que não tiveram coragem de decidir) do peso desta decisão. Mas compreendamos que estamos perante um homem que luta por manter uma réstea de carreira política e -mais importante ainda - por repor a sua honra e bom nome. É difícil pedir-lhe sacrifícios.
Mas, não partindo de Pedroso essa iniciativa, Sócrates fica posto perante um dilema. Se não incluir Pedroso nas listas à AR será acusado - e com razão - de pôr em causa os direitos cívicos de um cidadão inocente. Se o incluir, será acusado - outra vez com razão - de expor a candidatura socialista ao anátema social - mesmo que só das fagulhas - de um processo tão impactante como o da Casa Pia.
Por mim, acredito - ainda - que a política não é uma profissão nem uma comissão de serviço: é uma missão. De uma vida ou de uma legislatura, mas com espírito de missão. Por isso, não deve bastar ter os direitos cívicos intactos para entrar na política: deve ser exigido ter a honra inatacável. Embora risível face ao "calibre" da actual classe política, isto é o que devemos exigir dos nossos políticos, mesmo que não o possamos afirmar de nós próprios. A direcção política de uma sociedade é algo que tem que estar no topo da escala de valoração do respectivos cidadãos. A qualidade da classe política de um país é mais importante do que a qualidade dos seus juízes, militares, dirigentes desportivos, sindicalistas ou autarcas. E o exercício da política deve acontecer em nome de princípios e valores éticos que são incompatíveis com a mais leve suspeita de incriminação. Por isso Sócrates deve ter a coragem de recusar a Pedroso um lugar nas listas de candidatos à AR. Mas deve, com a mesma coragem e o dobro da visibilidade pública, convidá-lo a retomar a sua "missão" assim que estiver definitivamente ilibado do caso Casa Pia.
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