Será que já alguém reparou como os apelos do presidente a um pacto de regime são uma pequena machadada (ou uma grande alfinetada) na estratégia do PS para as legislativas. Mais do que qualquer partido dos extremos e mais certamente do que o PSD, o PS é o grande interessado na bipolarização. Só bipolarizando Sócrates pode esvaziar os dois - dois, sublinho - partidos à sua esquerda e aspirar a uma maioria absoluta. E precisa de apontar para ela porque sabe que se não a tiver tem um problema em mãos: "para que quero eu esta maioria relativa?" Ora, sugerir a mera possibilidade de um pacto de regime (ou, pior ainda, pedi-lo) entre o PS e o PSD sobre finanças públicas e competitividade é de certa forma esvaziar de sentido a bipolarização. Sócrates precisa de tudo aquilo que separe e distinga PSD e PS e não daquilo que os torna semelhantes aos olhos dos eleitores, porque é quanto mais semelhantes parecerem as políticas dos dois partidos do centro que mais crescem os votos dos extremos.
Se isso não fosse tão auto-flagelador face a um Presidente que acabou de o demitir, até Santana Lopes já teria percebido o potencial de estratégia eleitoral que aqui se lhe depara e teria vindo a público concordar, em tese, com esse pacto, passando a “batata quente” para o lado socialista.
Felizmente Sampaio, na sua habitual confusão de ideias, não raciocinou deste modo. E não o fez por duas razões, uma formal e outra substancial. A razão formal? Porque Sampaio não age por calculismo político mas sim por espírito de missão. A razão substancial? Porque, para lá das politiquices, existe de facto um problema grave – gravíssimo – de finanças públicas e competitividade que só parece poder ser resolvido com um pacto de regime.
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