Bem sei que a blogosfera está toda de acordo no elogio à recusa de Cavaco em deixar-se retratar ao lado da Santana Lopes. Também acho, como já disse, que Cavaco é um dos poucos grandes estadistas da nossa democracia e o único ainda “na reserva” (os outros já nem isso). Mas, goste-se ou não, Santana Lopes é líder do PSD eleito em congresso. É primeiro-ministro com legitimidade constitucional e política. Por isso, mais do que uma deslealdade para com Santana (Cavaco não tem nenhuma obrigação nessa lealdade), a atitude de Cavaco é uma deslealdade para com o partido. O mesmo partido que lutou nas ruas para lhe dar duas maiorias absolutas e está na disposição de o ajudar a chegar à Presidência. A fotografia na qual Cavaco não quis estar é aquela que enche de orgulho os militantes anónimos, as chamadas “bases”. Cavaco pode não gostar de partidos e da “vida partidária”, como ele diz com o desdém habitual; mas nesse caso devia desvincular-se do partido e não contar com ele para as suas lutas eleitorais. Isso sim seria eticamente correcto.
A não ser que…
…Cavaco seja afinal um refinado calculista político e esteja silenciosamente a “fazer a cama” a Santana:
Santana perde as eleições com uma débacle eleitoral de proporções históricas.
O partido não lhe perdoa e exige um congresso.
Marcelo candidata-se a líder do PSD apresentando-se como o homem ideal para ser líder da oposição (não há papel que ele faça melhor).
Marcelo ganha o partido e apoia Cavaco para a presidência.
Cavaco é eleito presidente.
O que Cavaco pensa é que Marcelo estará na disposição de aceitar a presença tutelar de uma eminência parda (quem acredita que Cavaco seja capaz de ficar “quieto” na Presidência?). Mas é nisso que ele se engana. Se algum dia o cenário se materializar, Cavaco vai descobrir que Marcelo é no fundo da mesma estirpe de Portas ou Santana: uma pura enguia política.
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