Ao anunciar a sua candidatura, Cavaco quebrou dois tabus: saber, finalmente, se era ou não candidato e saber se tinha ou não uma "tentação presidencialista". Cavaco foi claríssimo a sublinhar a concordância com os actuais presidenciais e com isso deve ter sossegado muita gente e desiludido outra tanta.
Mas talvez não seja razão para nenhuma das cosias. Nem os primeiros podem ficar completamente sossegados nem os segundos completamente desiludidos. Toda esta conversa acerca do eventual alargamento dos poderes presidenciais e a expectativa que gerou face ao que dela realmente pensa Cavaco pode ter um efeito curioso que é o de tornar mais "aceitável" uma visão maximizadora dos poderes presidenciais. Em primeiro lugar porque, como notou por exemplo Louçã, faltou, para já, a Cavaco, explicar de que forma concrecta pretende participar na resolução dos problemas do país. Porque se não o especificar então são só palavras e nada o distingue, deste ponto de vista, de Soares ou Alegre. E, segundo, porque, como, também bem, assinalou Nuno Rogeiro na SIC Notícias, os poderes presidenciais são o "grande segredo" do nosso sistema político-constitucional e permitem um desempenho presidencial muito mais interveniente do que qualquer magistratura até hoje (Sampaio, o mais "soft" dos nossos presidentes assim o provou). Ora, parece claro que só usando esses poderes na sua quase plenitude Cavaco pode fazer aquilo que pretende, aquilo que os seus apoianmtes querem que ele faça e, ao fim ao cabom, o que dele esperam a actual maioria dos portugueses.
Cavaco está portanto perante um dilema: ou corre ao encontro da história e desempenha o relevantíssimo papel político do qual está com receio; ou fica-se pela disputa eleitoral nos moldes habituais, não acciona a sua "vantagem comparativa " e torna-se semelhante aos restantes candidatos. Nesse caso pode perder.
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