Há um facto nestas eleições autárquicas que me parece que não tem sido devidamente salientado. É que, quaisquer que sejam os resultados nacionais e nas principais autarquias, esta pode muito bem ser uma eleição de viragem para o Bloco de Esquerda.
Até há bem pouco tempo, o Bloco era uma força política urbana, sem qualquer relevância fora dos grandes centros. Agora, nesta eleição, está presente um pouco por todo o país, ainda não em todos os concelhos, mas já em muitos deles, com candidatos em todos os distritos e regiões autónomas (pdf). O que isto significa é que o Bloco está a criar a sua "porosidade" e a criar "raízes", as quais lhe permitirão instituir-se definitivamente como uma força política de âmbito nacional. Ou seja, o Bloco deixa de ser uma clique e passa a ser, deste ponto de vista, um verdadeiro partido. Para preocupação óbvia do PCP, que continua a assobiar para o lado à medida que é gradualmente substituído por outro partido no seu espaço político.
A questão que se coloca que relação ao Bloco é aquela a que já vi referir-se Pachco Pereira: o Bloco seria uma amálgama de pessoas com agendas diversas que dificilmente poderiam organizar-se sustentadamente num partido. O Bloco tem demonstrado o contrário e estas eleições podem prová-lo em definitivo. É verdade que existe muitíssima mais heterogeneidade no Bloco do que existia no PCP. Mas será que existe mais heterogeneidade no Bloco do que no PPD/PSD ou no PS? Ou mesmo, para sair do "centrão", do que no CDS/PP? Parece-me que não.
Depois da falência das ideologias, os partidos são menos "ideológicos" e mais "sociológicos". Depois do "engolimento" dos Verdes pelo PCP, o Bloco é provavelmente o primeiro partido de um novo tipo a surgir em Portugal. Se cresce e subsiste ou não, ainda teremos que ver. Se é de novo tipo ou não, também teremos que ver. E, mais ainda, se este novo tipo de partido é ou não capaz eliminar o fosso entre a política e os cidadãos, essa é de longe a questão mais pertinente.
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