É interessante este post no Blasfémias sobre o CDS-PP no consulado de Paulo Portas. De facto, olhando para trás, encontramos uma sucessão de líderes aos quais atribuiríamos sem hesitar mais estatura política que a Paulo Portas, mas cuja “obra política” à frente do partido não se pode comparar com a de Portas. Portas e Monteiro, o primeiro no partido o segundo na comunicação social, descobriram quase ao mesmo tempo que havia um espaço sociológico por preencher em Portugal: o da moderna direita liberal. A existência desse “espaço político desocupado” explica metade do sucesso recente do CDS-PP; a outra metade explica-a o “faro político” de Paulo Portas. Não devemos esquecer que o PP era, há não muito tempo, sobretudo durante o consulado de Monteiro, um partido sobre o qual pairava o espectro do desaparecimento. Hoje, instalado no Governo e a distribuir jobs pelos boys, o PP ganha mais força do que alguma vez teve.
E esse é o grande dilema que se coloca a um partido de maioria que não obtém maioria absoluta: governar sozinho, expondo-se a crises; ou apoiar-se no pequeno partido do lado fazendo-o crescer. O PS já teria tido há muito o mesmo problema se o PCP fosse um partido “como os outros” e pode tê-lo em breve com o BE. A consequência de o PSD ter dado ao PP um protagonismo que ele não tinha há muitos anos está no seu fortalecimento, ao ponto de se dizer que é ele, o partido pequeno, que lidera a coligação com o partido grande. Isto, obviamente, é algo difícil de engolir para os militantes do PSD, conforme ficou demonstrado no Congresso. Por isso se torna claro que, mesmo não estando fisicamente presente (porque na verdade pairou como um fantasma), Paulo Portas ganhou o congresso de Vila do Conde. E ganhou-o porque, mais uma vez, “obrigou” Santana Lopes a defender a coligação com unhas e dentes e ficou, outra vez, na posição “tu é que precisas de mim e não eu de ti”. Isso transparecia em surdina com Barroso e é ruidosamente manifesto com Santana. E porquê? Porque Santana não pode perder! Em primeiro lugar porque é um líder fraco devido às circunstâncias em que ascendeu à liderança; e em segundo lugar porque esperou demasiado tempo por este momento para arriscar perdê-lo. No congresso, Santana tinha duas alternativas: ou convencia o partido a preparar uma coligação eleitoral com o PP e ficava em posição de força não só no PSD como também na coligação; ou mobilizava o partido para apostar tudo na capacidade do PSD para ganhar sozinho e assumia uma posição de força perante o PP, arriscando terminar a coligação – e o governo – antes do prazo mas chegando às urnas numa posição clara de “ou nós, ou eles”.
Se a situação era pantanosa, agora ficou um pouco mais pantanosa, porque ficámos a saber, que, ao contrário do seu líder, o PSD não quer uma coligação com o PP, mas quer o poder a qualquer custo. Cabe a Santana Lopes decifrar o enigma. Conhecendo-se a errância de rumo tão pessoalmente característica do Primeiro Ministro, é de esperar a continuação do tortuoso caminho que temos vindo a trilhar. E, claro, quem se fica a rir é Paulo Portas.
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