As reacções dos membros do governo e políticos da coligação à deliberação da Alta Autoridade para a Comunicação Social sobre o caso “Marcelo” foram tão inábeis como as declarações que lhe deram origem. E revelam, como bem sublinhou Artur Portela, da AACS, falta de “cultura democrática”.
Como diz Morais Sarmento, este pode ser um órgão moribundo (ele diz mesmo que é um “cadáver”), mas não deixa de ser aquele que neste momento está em funções, o qual votou segundo os seus estatutos. O que Morais Sarmento quer dizer é que nada do que a AACS produza tem qualquer validade.
Por outro lado, ao porta-voz do CDS-PP não fica bem (não fica bem ao partido, claro) dizer que respeita as conclusões, mas simplesmente não concorda com elas, querendo com isso significar que as mesmas não terão qualquer efeito prático.
Do mesmo modo, do nº 2 do governo não se espera que diga “quero lá saber”. Afinal, estamos a falar do principal assunto da actualidade e de batalha política durante os últimos meses. Estando devidamente calendarizada a decisão da AACS, do co-responsável máximo da coligação esperava-se que tivesse algo a reagir.
O que todas estas reacções revelam é um conjunto de tiques que vagamente evocam os do final da governação cavaquista em relação às então chamadas “forças de bloqueio”. A diferença é que o ciclo de poder cavaquista tinha então vários anos de existência e o santanismo dura há apenas alguns meses.
O que mais este “episódio” da novela santanista demonstra à saciedade é que não existe coordenação política na coligação. Já alguém ouviu o Primeiro-Ministro pronunciar-se sobre esta matéria? Não deveria ele ter preparado uma reacção única ou pelo menos coordenada a uma decisão que, esta ou outra, podia certamente ter sido antecipada? Não poderia ele ter preparado o terreno, por exemplo, anunciando algumas linhas mestras da futura entidade reguladora do sector como forma de desvalorizar o papel desta? É apenas um exemplo.
Pode não ser intencional, embora haja quem acredite que sim, mas a verdade é que a cadência com que os políticos da coligação, governantes ou não, criam polémicas políticas é absolutamente inédita na nossa história recente. Serve às mil maravilhas as manchetes de jornais e os comentários da blogosfera, e tornam difícil saber onde acaba a campanha anti-santana que se abriu assim que o seu nome começou a ser falado e começa a errância de rumo que também se sabe ser a da dupla Santana-Portas. Serve também às mil maravilhas a nova direcção do PS, que se tem mantido alegremente discreta deixando o “saco de gatos” em que se transformou a coligação fazer o seu “trabalho”. Mas o que a sucessão de polémicas e a ausência de rumo não serve de certeza é o país. E isso é que é preocupante. Não tenho dúvidas de que Cavaco Silva concordaria comigo.
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