Apresentar Arafat como “O homem que perdeu a guerra e não ganhou a paz” parece-me um desvio de alinhamento ideológico da direcção do Público, um jornal que leio justamente por pensar que é o menos alinhado – ou o mais aberto ao “contraditório” – que conheço.
Arafat é justamente uma das figuras mundiais do final de século XX e princípio de século XXI que mais inquietações ideológicas suscita. E, bem pesados todos os argumentos, a asserção até pode ser verdadeira. Creio mesmo que o é. Mas apresentar Arafat como um homem duplamente falhado é esquecer o quanto ele fez pela causa palestiniana. E nem me refiro aos combates ou aos atentados. Refiro-me apenas e só à projecção internacional e à “simpatia” que os palestinianos suscitam em muitos pontos do mundo. Se há causa terrorista que acolhe simpatias um pouco por todo o mundo, é a causa palestiniana. Se há causa terrorista que desafia o princípio de que “o terrorismo é sempre condenável”, é a causa palestiniana. E isso é obra de Arafat.
Arafat ajudou a colocar a questão palestiniana na agenda internacional, mas, sobretudo, deu à causa palestiniana um rosto simpático e passou bem a mensagem de um povo oprimido que luta pela sua libertação. Há e houve muitos movimentos terroristas no mundo, mas não me ocorre nenhum que tenha tido a “popularidade” do movimento palestiniano. Independentemente do peso político específico da questão palestiniana, essa é uma conquista de Arafat. E está longe se ser um falhanço.Por isso, acho que a figura de Arafat e o seu “efeito no mundo” é certamente mais complexo do que o maniqueísta título de primeira página do Público deixa entender.
Sem comentários:
Enviar um comentário