Arafat projectou mundialmente a imagem da causa palestiniana, mas também sofreu, no final da sua vida, e agora, no momento da sua morte, as consequências do facto de ter sido um terrorista. No passado, Arafat foi recebido em muitos países com honras de chefe de Estado e com o impacto público que é dado às grandes figuras mundiais. Agora não merece mais do que a presença de uns quantos ministros de negócios estrangeiros no seu funeral. Há uns anos atrás havia abaixo-assinados a correr no Ocidente e jovens de lenço branco e negro ao pescoço em defesa da causa palestiniana. Hoje é difícil encontrar um artigo de jornal ou um blogue que não apresente Arafat como “um lutador, mas…”. Na maior parte dos casos, é apresentado como o último obstáculo para a Paz (como se Sharon não fosse um obstáculo de igual magnitude ou como se Arafat fosse o mais radical dos palestinianos e de repente todos os outros fossem “moderados” prontos a sentarem-se à mesa com os israelitas).
Arafat foi um terrorista e tem certamente as mãos manchadas de sangue, porventura inocente. Mas isso também é verdade para os generais israelitas e para os seus dirigentes políticos. Já vi escrito e dito repetidas vezes que “o terrorismo é sempre condenável” Mas não é. Tal como a guerra é a continuação da política por outros meios, o terrorismo é a continuação da guerra por outras formas. Quando os poderes em guerra são demasiado díspares, o terrorismo pode ser o último recurso de um povo oprimido. Sempre foi assim e, felizmente é-o cada vez menos, mas sempre há-de ser assim. Por isso, dizer que “o terrorismo é sempre condenável” é o mesmo que dizer que “a guerra é sempre condenável”. É-o de facto e nisso até monsieur de La Palisse concordaria.Mas essa não é a questão. A questão é se foi ou não, legítimo, no passado, que o povo palestiniano, liderado por Arafat, tivesse lutado pela sua liberdade usando o terrorismo como arma. Se foi legítimo no passado, então deve ser legítimo no presente, sobretudo no momento em que Arafat parte deste mundo. Quando visitou Portugal, no pico da “popularidade” da causa palestiniana, Arafat foi recebido pelo Primeiro-Ministro e teve honras de Estado (ou quase; não conheço em detalhe o protocolo). Não me parece que, agora, a presença de um Ministro de Negócios Estrangeiros seja suficiente para prestar homenagem a uma personalidade com a estatura mundial de Arafat e não tenho dúvidas que o Primeiro-Ministro ou o Presidente estariam presentes caso tivesse morrido outro estadista “legítimo” da mesma estatura mundial. Como será quando Fidel morrer? Admito que estarmos representados ao mais alto nível nas exéquias de Arafat seria hoje politicamente incómodo. Mas também acho que seria politicamente corajoso.
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