É de prever que o PS continue a negar qualquer intenção de governar coligado com o BE em caso de maioria relativa. Isso faz parte da estratégia para apontar a uma maioria absoluta. Mas depois das eleições, naturalmente, tal é possível, pelo menos do ponto de vista do PS.
A razão porque me parece que um eventual acordo entre socialistas e bloquistas não passará do parlamento prende-se mais com o BE.
O BE sabe que tem sobretudo um eleitorado urbano e jovem e sabe que ser "do contra" é um elemento constitutivo da relação entre o BE e uma boa parte do seu eleitorado. Por isso, não acredito que o BE "arrisque" fazer parte do Poder. E por isso é que a coligação, a existir, não será de governo, mas apenas de incidência parlamentar. Essa é aliás uma das alternativas para o presidente empossar um governo socialista minoritário mas vencedor, mesmo que uma coligação (pré ou pós-eleitoral) PSD-PP garanta uma maioria, um cenário provável.
Se o programa de governo do PS não ferir nenhuma das bandeiras do BE e este puder obter, em troca da viabilização parlamentar, a consumação de alguma das suas propostas, então o BE ganha respeitabilidade, tem algo para mostrar aos seus apoiantes, mas mantém uma "sanitária" distância em relação ao Poder. Este parece-me de longe o cenário mais provável das próximas eleições.
Se, ao contrário do que Sócrates agora nega, PS e BE se juntarem num governo, então é mais do que provável que os bloquistas serão o elemento instabilizador da maioria, sujeitos às forças contraditórias da pleíade de partidos e grupos que originalmente compõem a plataforma e à tentação de defender as suas bandeiras. O choque do Poder não é traumático só para o eleitorado bloquista, é-o também para os seus dirigentes caso estes decidam aceitar o canto da sereia.
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