Uma reflexão rápida (falta tempo...) sobre o escândalo público que provocaram as imagens de soldados britânicos espancando jovens civis no Iraque:
Claro que a atitude dos militares é condenável. Mas a reacção ocidental (declarações do primeiro-ministro, primeiras páginas de jornais, inquéritos, prisões, etc..), não sendo desproporcionada, evidencia uma falha de perspectiva que é particularmente grave e explica boa parte dos sucessivos equívocos ocidentais em relação ao Iraque.
Com declaração formal ou sem ela, os militares ocidentais estão no Iraque em situação de guerra (guerra de guerrilha, mais precisamente). E a única diferença entre esta cena que nós vimos e muitas outras que se passam naquela ou em qualquer outra guerra é que esta foi filmada. Nada mais. Há de certeza nesta e noutras guerras episódios ainda mais repugnantes (de ambos os lados da barricada...) de que nunca chegamos a ter conhecimento porque não estamos lá e ninguém os filma.
O que nos deve escandalizar é a guerra em si (isso ninguém discute, claro) ou a presença de militares ocidentais no Iraque (isso jé é mais discutível...). Mas, uma vez assumida essa opção, devemos tomar consciência que os "nossos" militares estão no Iraque em situação de guerra. Achar que eles passariam por lá incólumes à violência, seja como vítimas seja como agentes, é - de duas uma - ou uma risível ingenuidade; ou uma preocupante manifestação de má-consciência, permitindo-nos dormir descansados em relação às restantes atrocidades que todos os dias acontecem no Iraque, perpetradas pelos "nossos" ou sofridas por eles. Como em todas as guerras.
Estando nós no lado mais "iluminado" do mundo, seria de supor que fôssemos capazes de não ser ingénuos ou de superar essa má-consciência, senão com o conhecimento de tudo o que se passa, pelo menos com a noção de que, de certeza, se passam coisas que não podemos julgar (sem o fazer levianamente) confortavelmente sentados no nosso sofá.
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