Percebo a ironia de Fernando Alves nos seus Sinais de hoje (audíveis aqui) e concordo com ela. Mas, na sua aparência de fait-divers colateral, a notícia de que uma empresa neo-zelandesa de comida para cães ofereceu 42 toneladas de alimento para as famintas crianças do Quénia (prontamente recusadas pelo governo local) é desarmante e desafiante.
Porventura será melhor que as crianças morram à fome? Porventura será melhor que se alimentem do que quer que consigam encontrar nas imediações, por mais prejudicial que lhes seja? Alguém dúvida que muitas delas passarão primeiro por isto e para depois chegarem aquilo? Para lá da fome não há nada senão a morte. E para a evitar todos os meios são legítimos.
O que nos deve preocupar, a todos, os que têm cães e os que não têm, é que a questão se chegue a colocar. Podemos dormir descansados, podemos pôr comida aos nossos animais, podemos pensar nas minudências da nossa vidinha sem nos lembrarmos que há crianças com fome? Podemos admitir que a resposta seja sim? Sim?
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