No debate relativo ao segredo de justiça, parece-me que o Presidente usou de bom senso ao afirmar que o sistema judicial devia comunicar mais e melhor com os meios de comunicação social. Ao tratar deste assunto é inegável que estamos perante dois «mundos» bastante diferentes. O mundo da justiça é muito fechado sobre si mesmo de forma a proteger o andamento das investigações e o bom nome e privacidade das pessoas envolvidas, acusados e vítimas. O mundo dos media, pelo contrário, é extremamente aberto, cada vez mais aberto, e dinâmico. Do encontro entre estes dois «mundos» resulta aquilo que já todos sabemos: informações dispersas e não fundamentadas, especulações, citações cruzadas entre meios de comunicação, e muita desinformação. Algo que acaba por não servir aos media nem ao sistema judicial.
No estado actual da situação, parece-me evidente que deve ser o sistema judicial a fazer uma aproximação mais adequada ao mundo dos media, comunicando por canais específicos para o efeito aquilo que possa ser comunicado sem prejuízo do bom andamento das investigações ou da preservação da privacidade das pessoas. Claro que o que pode ou não pode ser divulgado dependerá de cada caso em concreto, mas parece-me evidente que será sempre mais do que acontece hoje, em que o mutismo oficial é quase total.
Mas desengane-se quem pensa que uma abertura judicial nesta matéria será suficiente para satisfazer a voracidade dos media actuais. Há diferentes tipos de meios de comunicação que só por si procuram diferentes tipos de informações. Um jornal tablóide como o 24 Horas, por exemplo, quererá sempre saber detalhes que o sistema judicial nunca divulgará. E publicará sempre os detalhes que achar convenientes, confirmados ou por confirmar. Uma televisão comercial, por seu lado, desejará sempre conhecer a identidade da vítima de um processo mediático para poder fazer uma entrevista de grande audiência no prime-time, por exemplo. Mesmo um jornal de referência como o Público quererá
Parece-me, repito, que o sistema judicial deve promover alguma abertura em termos de comunicação com o exterior e dotar-se dos meios necessários para o fazer preservando o máximo possível daquilo que entende, e bem, que deve preservar. Mas fazer concessões nesta matéria é como abri uma caixa de Pandora. É preciso traçar uma linha. Para os agentes do sistema judicial essa linha estará provavelmente longe de mais; para os media ela estará de certeza muito aquém do que acham que precisam para corresponder aos desejos dos leitores ou dos telespectadores. Ou seja: o problema não acaba quando se mudarem as regras do jogo. E porquê. Simplesmente porque o jogo continua.
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