É verdade que não se pode pactuar ou negociar com terroristas, porque isso os torna mais fortes. É verdade que, de cada vez que um dirigente ocidental fala em "compreender" as razões dos terroristas, isso o torna mais fraco e aos terroristas mais fortes. Mais ainda: como é linear de perceber, a ausência de reacção é ela própria um sinal de fraqueza.
Mas, por outro lado, é também verdade que não se pode dizimar os terroristas porque isso só instiga mais terrorismo. É inegável que a violência ocidental no Afeganistão e no Iraque só gerou mais terrorismo e mais terroristas. A humilhação dos terroristas só incentiva mais terroristas.
Este é portanto certamente um dos problemas de mais difícil solução com que nos deparamos. É claramente uma situação loose-loose.
Mas devemos ir mais longe e pensar se não será o terrorismo, afinal, uma espécie manifestação violenta do mecanismo de reequilíbrio do ecossistema humano?
Não é sustentável um mundo tão díspar como o nosso, sob todos os aspectos: económico, cultural, político, etc. A homogeneidade de uma sociedade é que lhe permite viver colectivamente e uma forma organizada, isto é, segundo regras, escritas e não escritas. Numa sociedade ocidental típica, a maior parte das pessoas respeitam as regras e os diversos tipos de crimes quotidianos são tratados pelas autoridades competetendes by the book. Quando os crimes são repetidamente associados a um grupo étnico ou social, então, o seu potencial de desequilibrio da sociedade é muito maior e os mecanismos para lidar com o problema já têm que ser diferentes (no limite são resolvidos por guerras étnicas ou civis).
Na sociedade humana globalizada, o ocasional conflito étnico, político ou social também é aceitável e pode ser resolvido pelos mecanismos instituídos e pelas instituições congregadoras (ONU, UE, NATO, por exemplo). Quando o conflito surge repetidamente associado a uma etnia ou grupo social, o problema desequilibra a socidade globalizada. O conflito entre o terrorismo muçulmano e a sociedade ocidental globalizada transcendeu há muito o limiar de um problema que possa ser resolvido pelos mecanismos habituais tal como os conhecemos (a ONU, a UE, etc).
Não é por serem muçulmanos e que os muçulmanos são terroristas. É por serem muçulmanos (radicais) e estarem confrontados com uma sociedade humana globalizada que de alguma forma os choca, quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista da comunicação/informação. É pela conjugação das duas razões - a radicalidade da leitura do Corão e o choque civilizacional - que o problema do terrorismo muculmano assume as proporções que hoje se tornam evidentes.
Há duzentos anos atrás, este problema seria sem dúvida resolvido com uma guerra, como muitas houve, ao longo da história e em todos os continentes, alimentadas pela religião (que não é mais do que um sistema completo de padrões culturais).
Mas no mundo global e civilizadamente progressista de hoje, essa simplesmente não é uma opção. Ou melhor: é a última das opções, que se imporá por si própria quando todas as outras falharem. Antes disso, a solução do problema do terrorismo muçulmano terá que passar por medidas dos próprios muçulmanos para limitar a interpretação radical do Corão e por medidas do mundo ocidental para suavizar o choque civilizacional com "este" terceiro mundo (outros "terceiros mundos" existem que, felizmente, não têm o combustível do radicalismo religioso, como a África sub-sahariana).
Sem comentários:
Enviar um comentário