quinta-feira, julho 21, 2005

A propósito de Campos e Cunha

Ainda há muitas coisas por esclarecer acera da demissão de Campos e Cunha. Mas há algumas reflexões que se podem fazer já:

1. O PS é o pior inimigo do governo de José Sócrates. Na medida em que Sócrates consiga contrariar o seu partido, ele conseguirá um rumo certo para o país. Sendo Sócrates um homem do "aparelho" nascido e criado na juventude socialista, isso não augura nada de bom. Mas a verdade é que, até ontem, Sócrates tinha conseguido parecer resistir aos apelos despesistas de todos os clientes socialistas. Agora as dúvidas adensam-se. E o país fica em stand-by. Sobretudo para ouvir o próprio Sócrates e o novo ministro das finanças.

2. Sócrates foi eleito com base num programa de obras públicas como motor da economia. Isso foi claramente dito na campanha e é impossível que não tenha sido disctutido entre Sócrates e Campos e Cunha aquando do convite do primeiro ao segundo. Depois, mais tarde, foi apresentado no CCB um plano de investimentos que claramente previa o lançamento da Ota e do TGV "ainda nesta legislatura". Se entretanto e depois disto, Campos e Cunha quebrou a solidariedade governamental tornando públicas divergências quanto ao rumo a seguir, então era Campos e Cunha que estava a mais. Se isso é bom ou não para o país (e se a Ota e o TGV devem ou não ser feitos), é outra questão (talvez mesmo a questão essencial). Mas com esta medida Sócrates tornou claro que quem manda é ele. E não podia deixar de ser assim.

3. Por outro lado, parece impossivel que Sócrates e Campos e Cunha não tivessem já falado sobre a Ota e o TGV. Por isso, das duas uma: ou Sócrates não disse a Campos e Cunha o rumo que as coisas iam tomar como forma de o seduzir; ou Campos e Cunha concordou com o rumo traçado (mesmo dele discordando intimamente) para poder ser ministro. No primeiro caso estamos perante um erro de casting imperdoável num PM responsável; no segundo, estamos simplesmente perante uma falta de verticalidade a todos os títulos criticável. Neste aspecto, provavelmente, nunca saberemos ao certo o que terá acontecido.

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