Tese + Antítese = Síntese. Espaço de reflexão sobre a actualidade. Media, política e jornalismo.
domingo, fevereiro 26, 2006
Nuclear? Onde???
Faço minhas as palavras de Carlos Medina Ribeiro no Sorumbático. Este cartoon de Bandeira publicado no DN de ontem diz tudo: para quê discutir a energia nuclear se nunca chegaremos a consenso sobre onde a instalar. Pura perda de tempo.
24 Horas
Por acaso descobri, com esta história das buscas, que havia jornalistas no 24 Horas. Ainda não tinha percebido...
Vai ser um belo fim de tarde
Agora sim, refastelado olhando para o clássico.
Raramente temos um jogo em que os resultados possíveis variem entre o bom e o excelente:
Vitória do Porto: Bom. É sempre bom ver o Benfica perder, seja contra quem for, seja em que circunstâncias for.
Vitória do Benfica: muito bom. Benfica a três pontos e Porto ao alcançe de uma mão.
Empate: excelente. Quatro pontos ganhos numa só jornada aos competidores directos.
Haverá melhor programa para um fim de tarde?
sábado, fevereiro 25, 2006
A Política prevalece sobre a Justiça
Sobre o incidente de recusa de juíz no processo Casa Pia:
Se uma manobra processual, real ou possivelmente dilatória, pode pôr em causa um julgamento com a relevância pública deste, compete ao poder político assegurar-se que não é pelos prazos - uma formalidade - que a justiça - em substância - falha a sua aplicação. Nomeadamente, compete à organização e funcionamento do sistema judicial, um subproduto do poder político, garantir que os prazos em causa não são ultrapassados. Se o governo não tem competências directas para o fazer, se calhar devia ter. E devia ter porque, se é verdade que o poder político não pode administrar a justiça ou interferir na sua administração, tem o dever de garantir que ela funciona. E isso é manifestamente o que está em causa.
Que toda a gente ache que o governo não pode intervir nesta matéria porque é do foro da Justiça é algo que dá muito jeito ao governo, que, naturalmente, a última coisa que deseja é ter que tomar decisões com relevância nesta matéria tão complexa. Daí que não tenha havido, até ao momento, qualquer reacção governamental a este respeito.
Mas a ideia de que a Justiça é terreno proibido para o governo só parcialmente é verdadeira. É certo que o poder político não pode interferir na substância da Justiça. Mas tem o dever de grantir que os seus formalismos a servem em vez de a prejudicarem. Ou seja, a Política prevalece sobre a Justiça. O julgamento judicial depende da avaliação do juíz, o julgamento político depende da comunidade no seu todo. O juíz regula o seu julgamento pelas leis, a comunidade faz os seus julgamentos a partir daquilo que observa à sua volta. A economia, a televisão, o emprego, as obras, o trânsito, a criminalidade, o aborto, o casamento homossexual, a segurança social, mas também a justiça. E ninguém compreenderia que o processo Casa Pia fosse anulado por uma razão processual. Não faz qualquer sentido e só pode ter um julgamento político: inépcia. Se não dispõe dos meios ou instrumentos para solucionar a questão, o Governo deve reuni-los rapidamente e tornar claro que não será por uma razão processual - ainda para mais relacionada com os prazos dilatados em que a justiça funciona (mais de um mês para avaliar a imparcialidade de um juíz?) - que o caso deixará de ser competentemente julgado.
Se uma manobra processual, real ou possivelmente dilatória, pode pôr em causa um julgamento com a relevância pública deste, compete ao poder político assegurar-se que não é pelos prazos - uma formalidade - que a justiça - em substância - falha a sua aplicação. Nomeadamente, compete à organização e funcionamento do sistema judicial, um subproduto do poder político, garantir que os prazos em causa não são ultrapassados. Se o governo não tem competências directas para o fazer, se calhar devia ter. E devia ter porque, se é verdade que o poder político não pode administrar a justiça ou interferir na sua administração, tem o dever de garantir que ela funciona. E isso é manifestamente o que está em causa.
Que toda a gente ache que o governo não pode intervir nesta matéria porque é do foro da Justiça é algo que dá muito jeito ao governo, que, naturalmente, a última coisa que deseja é ter que tomar decisões com relevância nesta matéria tão complexa. Daí que não tenha havido, até ao momento, qualquer reacção governamental a este respeito.
Mas a ideia de que a Justiça é terreno proibido para o governo só parcialmente é verdadeira. É certo que o poder político não pode interferir na substância da Justiça. Mas tem o dever de grantir que os seus formalismos a servem em vez de a prejudicarem. Ou seja, a Política prevalece sobre a Justiça. O julgamento judicial depende da avaliação do juíz, o julgamento político depende da comunidade no seu todo. O juíz regula o seu julgamento pelas leis, a comunidade faz os seus julgamentos a partir daquilo que observa à sua volta. A economia, a televisão, o emprego, as obras, o trânsito, a criminalidade, o aborto, o casamento homossexual, a segurança social, mas também a justiça. E ninguém compreenderia que o processo Casa Pia fosse anulado por uma razão processual. Não faz qualquer sentido e só pode ter um julgamento político: inépcia. Se não dispõe dos meios ou instrumentos para solucionar a questão, o Governo deve reuni-los rapidamente e tornar claro que não será por uma razão processual - ainda para mais relacionada com os prazos dilatados em que a justiça funciona (mais de um mês para avaliar a imparcialidade de um juíz?) - que o caso deixará de ser competentemente julgado.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Gripe das aves
Será o alarmismo a expressão social da hipocondria (uma "doença" da civilização ocidental)?
"As far as I can read it, the flu strain known as H5N1 has taken eight years to spread from east Asia to Europe. In that time, it has killed just 91 people who have been in intimate contact with diseased birds. Roughly 200 people are ill at present, with a 60% chance of recovery. Short of eating infected bird faeces, humans seem close to immune. As world diseases go, this is trivial, yet it currently consumes more time and column inches than MRSA, malaria or Aids."
Simon Jenkins, The Guardian
(via Bicho Carpinteiro)
"As far as I can read it, the flu strain known as H5N1 has taken eight years to spread from east Asia to Europe. In that time, it has killed just 91 people who have been in intimate contact with diseased birds. Roughly 200 people are ill at present, with a 60% chance of recovery. Short of eating infected bird faeces, humans seem close to immune. As world diseases go, this is trivial, yet it currently consumes more time and column inches than MRSA, malaria or Aids."
Simon Jenkins, The Guardian
(via Bicho Carpinteiro)
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Opinion (des)maker
Sobre o excesso de opiniões da blogosfera, subescrevo (já que não consigo escrever assim...) este excelente post de Afonso Bívar no Bombyx Mori:
"Não é que haja em excesso; nem que as pessoas, escudadas no seu carácter sacrossanto, falem com ligeireza e fast thinking do que não sabem; nem sequer que, através da colagem da livre expressão à opinião, esta tenda a colonizar a esfera pública prensando outras modalidades de expressão a ponto da microscopização. O meu problema com a opinião é que ela encerra uma gramática assertiva, afirmativa, categórica que se coaduna mal com inquietações, perplexidades, dúvidas, interrogações. Quem opina por regra define, assevera, firma-se, toma posição, situa-se em contraditório com outrem igualmente assertivo, procura o veredicto, ter razão, quer dizer: beneficiar do reconhecimento de possuir a razão do seu lado. Um discurso que não apresente essas propriedades centrais da opinião (auto-)condena-se ao esoterismo, ao objecto excêntrico, quando não estapafúrdio e caprichoso. Para mim opinar é de facto uma violência (à qual cedo de quando em vez). É-o não por causa do esforço de construção de argumento mais ou menos complexo mas sim por ser constrangido a adoptar uma nomologia que encana o logos dentro de limites insatisfatórios, demasiado estreitos, obstruindo a reflexividade que quer rasgar além do mero esgrimir tantas vezes auto-complacente e narcísico de pré-conceitos. Eu tenho sempre muito mais dúvidas e enigmas por resolver que certezas e convicções, essas pautas de ordem que nos levam à certa, por mais tranquilizantes e reconfortantes, diria anestesiantes que estas sejam. Aliás, interessa-me mais o trabalho de enigmatização que o decifração. Não havendo enigma não há lugar à revelação, à descoberta, a abrir a arte do entendimento, apenas à confirmação, à reiteração de ponto de vista. À lógica da opinião falta essa curiosidade fundamental, pueril no melhor sentido do termo, ou seja como a que (só) se observa nas crianças e ainda mais nos bebés, singularmente (con)genial.
Contrapor-se-á que este texto é uma contradição nos termos. Uma opinião sobre a opinião, que por isso replica todos os vícios que a opinião – tal como aqui é paradigmatizada – apresenta. Não contesto. Mas o mundo não é só complexo, é também contraditório – aspecto que a Razão Providencial tem dificuldade em aceitar. Nem este texto nem eu próprio estamos fora do mundo(...)."
"Não é que haja em excesso; nem que as pessoas, escudadas no seu carácter sacrossanto, falem com ligeireza e fast thinking do que não sabem; nem sequer que, através da colagem da livre expressão à opinião, esta tenda a colonizar a esfera pública prensando outras modalidades de expressão a ponto da microscopização. O meu problema com a opinião é que ela encerra uma gramática assertiva, afirmativa, categórica que se coaduna mal com inquietações, perplexidades, dúvidas, interrogações. Quem opina por regra define, assevera, firma-se, toma posição, situa-se em contraditório com outrem igualmente assertivo, procura o veredicto, ter razão, quer dizer: beneficiar do reconhecimento de possuir a razão do seu lado. Um discurso que não apresente essas propriedades centrais da opinião (auto-)condena-se ao esoterismo, ao objecto excêntrico, quando não estapafúrdio e caprichoso. Para mim opinar é de facto uma violência (à qual cedo de quando em vez). É-o não por causa do esforço de construção de argumento mais ou menos complexo mas sim por ser constrangido a adoptar uma nomologia que encana o logos dentro de limites insatisfatórios, demasiado estreitos, obstruindo a reflexividade que quer rasgar além do mero esgrimir tantas vezes auto-complacente e narcísico de pré-conceitos. Eu tenho sempre muito mais dúvidas e enigmas por resolver que certezas e convicções, essas pautas de ordem que nos levam à certa, por mais tranquilizantes e reconfortantes, diria anestesiantes que estas sejam. Aliás, interessa-me mais o trabalho de enigmatização que o decifração. Não havendo enigma não há lugar à revelação, à descoberta, a abrir a arte do entendimento, apenas à confirmação, à reiteração de ponto de vista. À lógica da opinião falta essa curiosidade fundamental, pueril no melhor sentido do termo, ou seja como a que (só) se observa nas crianças e ainda mais nos bebés, singularmente (con)genial.
Contrapor-se-á que este texto é uma contradição nos termos. Uma opinião sobre a opinião, que por isso replica todos os vícios que a opinião – tal como aqui é paradigmatizada – apresenta. Não contesto. Mas o mundo não é só complexo, é também contraditório – aspecto que a Razão Providencial tem dificuldade em aceitar. Nem este texto nem eu próprio estamos fora do mundo(...)."
Citizen Journalism em Espanha
O jornal espanhol El Correo passou a integrar duas páginas de uma nova secção - EnlaCe - integralmente dedicadas ao citizen journalism.
(via Obercom, vias Editors Weblog, via Periodistas 21; o que também é um bom exemplo de como a informação flui)
P.S. (Post Scriptum) Um dia destes temos que traduzir Citizen Journalism, embora não goste muito do castllhano periodismo ciudadano. Aceitam-se ideias.
(via Obercom, vias Editors Weblog, via Periodistas 21; o que também é um bom exemplo de como a informação flui)
P.S. (Post Scriptum) Um dia destes temos que traduzir Citizen Journalism, embora não goste muito do castllhano periodismo ciudadano. Aceitam-se ideias.
domingo, fevereiro 19, 2006
Mourinho em análise
A dimensão politico-filosófica de Mourinho num artigo publicado no Observer (com algumas incorrecções mas também algumas ideias interessantes). Este artigo exemplifica bem de que forma José Mourinho está a moldar a imagem dos portugueses.
(dica Bicho Carpinteiro)
(dica Bicho Carpinteiro)
Pequenos detalhes
Pequenos detalhes de linguagem que nos ensinam coisas:
"...Cerca de 200 mil euros enquanto primeira proposta..."
José Sá Fernandes, sobre a tentativa de suborno da BragaParques (audio aqui). O detalhe está no sublinhado. Será esta uma "transacção" tão banal que já tem um processo negocial habitual? Como quando vendemos ou compramos um carro usado? Aparentemente sim.
"...Cerca de 200 mil euros enquanto primeira proposta..."
José Sá Fernandes, sobre a tentativa de suborno da BragaParques (audio aqui). O detalhe está no sublinhado. Será esta uma "transacção" tão banal que já tem um processo negocial habitual? Como quando vendemos ou compramos um carro usado? Aparentemente sim.
As 10 leis da blogosfera
Estas são oito das 10 leis da Blogosfera segundo o Abrupto, aqui e aqui. Uma nova versão está anunciada para breve.
1. Evitar discutir a Posição, procurar atacar a Contradição.
2. A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia.
3. A esmagadora maioria dos temas, comentários, reacções, alinhamentos, posições é absolutamente previsível.
4. A blogosfera tem horror ao vazio.
5. O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que a importância da blogosfera aumenta na atmosfera.
6. O tribalismo é a doença infantil da blogosfera.
7. O que vale na blogosfera tem que valer na atmosfera.
8. Na blogosfera o lixo atrai o lixo, não sendo a inversa verdadeira.
Ficamos ansiosamente à espera das restantes duas.
1. Evitar discutir a Posição, procurar atacar a Contradição.
2. A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia.
3. A esmagadora maioria dos temas, comentários, reacções, alinhamentos, posições é absolutamente previsível.
4. A blogosfera tem horror ao vazio.
5. O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que a importância da blogosfera aumenta na atmosfera.
6. O tribalismo é a doença infantil da blogosfera.
7. O que vale na blogosfera tem que valer na atmosfera.
8. Na blogosfera o lixo atrai o lixo, não sendo a inversa verdadeira.
Ficamos ansiosamente à espera das restantes duas.
sábado, fevereiro 18, 2006
Admirável mundo novo
Notável, este software que permite transformar palavras escritas em palavras faladas. Ainda soa um pouco a robot, mas o que anuncia para o futuro é entusiasmante. Basta escrever algo, escolher "português" e deixar a moça falar (eu prefiro a Amália).
(dica Mau Tempo no Canil)
(dica Mau Tempo no Canil)
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Freitas do Amaral
Freitas do Amaral é o Santana Lopes do governo PS, é o José António Saraiva da actual política portuguesa. Claro que pôs-se a jeito com uma declaração em que faltava metade do que lá devia estar (a condenação dos tumultos) e uma ideia risível que se calhar até era uma boa ideia. Mas isso não chega para explicar tamanha unanimidade em torno da figura. Como SL ou JAS, Freitas conseguiu unir contra si toda a intelligentsia nacional. E todos sabemos como a unanimidade gera unanimismo. Hoje em dia toda a gente "bate" em Freitas porque... toda a gente "bate" em Freitas. É isso o unanimismo. Há muitas figuras nacionais que separam opiniões, mas apenas umas poucas que as congregam. Freitas é uma delas. E como o que é normal é as opiniões divergirem, e não convergirem, talvez nos devamos perguntar porque será assim neste caso. Será que a intelligentsia nacional precisa do seu saco de porrada para compensar a angústia da divergência de opiniões? Será que FA, como SL ou JAS, têm afinal a função reflexiva de nos assegurar que também nós fazemos parte dessa elite em que nos projectamos? Procurar a unanimidade em figuras como Freitas é, para os espíritos livres, o mesmo que para os pobres de espírito é procurar em Deus a explicação do mundo. Na verdade, nem uma nem outro existem. Por angustiante que seja, é mesmo assim. E disso Freitas não tem culpa.
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Back to the classics
Depois de Xerxes, a jukebox passa a emitir Ryuichi Sakamoto (o site, por si só, vale uma visita) e David Sylvian em Forbidden Colors. Este tema começou em Feliz Natal Mr. Lawrence e depois evoluiu para esta bela canção, uma das mais belas que já ouvi.
O que sabemos nós sobre a guerra?
Uma reflexão rápida (falta tempo...) sobre o escândalo público que provocaram as imagens de soldados britânicos espancando jovens civis no Iraque:
Claro que a atitude dos militares é condenável. Mas a reacção ocidental (declarações do primeiro-ministro, primeiras páginas de jornais, inquéritos, prisões, etc..), não sendo desproporcionada, evidencia uma falha de perspectiva que é particularmente grave e explica boa parte dos sucessivos equívocos ocidentais em relação ao Iraque.
Com declaração formal ou sem ela, os militares ocidentais estão no Iraque em situação de guerra (guerra de guerrilha, mais precisamente). E a única diferença entre esta cena que nós vimos e muitas outras que se passam naquela ou em qualquer outra guerra é que esta foi filmada. Nada mais. Há de certeza nesta e noutras guerras episódios ainda mais repugnantes (de ambos os lados da barricada...) de que nunca chegamos a ter conhecimento porque não estamos lá e ninguém os filma.
O que nos deve escandalizar é a guerra em si (isso ninguém discute, claro) ou a presença de militares ocidentais no Iraque (isso jé é mais discutível...). Mas, uma vez assumida essa opção, devemos tomar consciência que os "nossos" militares estão no Iraque em situação de guerra. Achar que eles passariam por lá incólumes à violência, seja como vítimas seja como agentes, é - de duas uma - ou uma risível ingenuidade; ou uma preocupante manifestação de má-consciência, permitindo-nos dormir descansados em relação às restantes atrocidades que todos os dias acontecem no Iraque, perpetradas pelos "nossos" ou sofridas por eles. Como em todas as guerras.
Estando nós no lado mais "iluminado" do mundo, seria de supor que fôssemos capazes de não ser ingénuos ou de superar essa má-consciência, senão com o conhecimento de tudo o que se passa, pelo menos com a noção de que, de certeza, se passam coisas que não podemos julgar (sem o fazer levianamente) confortavelmente sentados no nosso sofá.
Claro que a atitude dos militares é condenável. Mas a reacção ocidental (declarações do primeiro-ministro, primeiras páginas de jornais, inquéritos, prisões, etc..), não sendo desproporcionada, evidencia uma falha de perspectiva que é particularmente grave e explica boa parte dos sucessivos equívocos ocidentais em relação ao Iraque.
Com declaração formal ou sem ela, os militares ocidentais estão no Iraque em situação de guerra (guerra de guerrilha, mais precisamente). E a única diferença entre esta cena que nós vimos e muitas outras que se passam naquela ou em qualquer outra guerra é que esta foi filmada. Nada mais. Há de certeza nesta e noutras guerras episódios ainda mais repugnantes (de ambos os lados da barricada...) de que nunca chegamos a ter conhecimento porque não estamos lá e ninguém os filma.
O que nos deve escandalizar é a guerra em si (isso ninguém discute, claro) ou a presença de militares ocidentais no Iraque (isso jé é mais discutível...). Mas, uma vez assumida essa opção, devemos tomar consciência que os "nossos" militares estão no Iraque em situação de guerra. Achar que eles passariam por lá incólumes à violência, seja como vítimas seja como agentes, é - de duas uma - ou uma risível ingenuidade; ou uma preocupante manifestação de má-consciência, permitindo-nos dormir descansados em relação às restantes atrocidades que todos os dias acontecem no Iraque, perpetradas pelos "nossos" ou sofridas por eles. Como em todas as guerras.
Estando nós no lado mais "iluminado" do mundo, seria de supor que fôssemos capazes de não ser ingénuos ou de superar essa má-consciência, senão com o conhecimento de tudo o que se passa, pelo menos com a noção de que, de certeza, se passam coisas que não podemos julgar (sem o fazer levianamente) confortavelmente sentados no nosso sofá.
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Eu apoio!
"COMUNICADO - CONVITE
Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa.
Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão.
Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI.
Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos.
Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre.
Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes".
Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.
Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos
Rui Zink
Manuel João Ramos
Luísa Jacobetty"
Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa.
Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão.
Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI.
Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos.
Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre.
Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes".
Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.
Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos
Rui Zink
Manuel João Ramos
Luísa Jacobetty"
terça-feira, fevereiro 07, 2006
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Estou de esperanças
Ainda não é bem uma redenção, mas, com muitas, muitas reservas (sublinhados abaixo), há uma ténue luz de esperança a iluminar o pessimismo militante de VPV:
"(...) do meu ponto de vista infinitamente insignificante (que nem a História, nem Deus, nem o seu profeta ou o seu vicário recomendam), não me parece discutível que a civilização ocidental contribuiu mais para a liberdade e felicidade do homem - e da mulher - e para o domínio do homem sobre a natureza do que qualquer outra civilização conhecida. Mais prosaicamente, em 2005, não imagino espécie de futuro para uma civilização fanática, despótica e analfabeta e consigo imaginar algum futuro, e até depor alguma cautelosa esperança, na angústia, na desordem e no perpétuo conflito, que é, como lhe compete, a civilização do Ocidente. Peço desculpa pelo tom altissonante da última frase."
V., pá, não peças desculpa: "depor alguma cautelosa esperança" merece bem um "tom altissonante"!
"(...) do meu ponto de vista infinitamente insignificante (que nem a História, nem Deus, nem o seu profeta ou o seu vicário recomendam), não me parece discutível que a civilização ocidental contribuiu mais para a liberdade e felicidade do homem - e da mulher - e para o domínio do homem sobre a natureza do que qualquer outra civilização conhecida. Mais prosaicamente, em 2005, não imagino espécie de futuro para uma civilização fanática, despótica e analfabeta e consigo imaginar algum futuro, e até depor alguma cautelosa esperança, na angústia, na desordem e no perpétuo conflito, que é, como lhe compete, a civilização do Ocidente. Peço desculpa pelo tom altissonante da última frase."
V., pá, não peças desculpa: "depor alguma cautelosa esperança" merece bem um "tom altissonante"!
Pérolas jornalísticas *
"Pontapé na bola e fé em Deus"
'Remate' da reportagem da TSF sobre a selecção portuguesa no europeu de futsal do clero.
* a sério...
'Remate' da reportagem da TSF sobre a selecção portuguesa no europeu de futsal do clero.
* a sério...
Choque!
Ontem, na SIC Notícias, Rui Santos reclamou um «choque 'futebológico'» em Portugal.
(nota: mas pediu a devida autorização ao primeiro-ministro José Sócrates)
(nota: mas pediu a devida autorização ao primeiro-ministro José Sócrates)
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Justificação filosófica do casamento homossexual
Um dos argumentos mais repetidos contra o casamento homossexual de Teresa e Helena é o de que este instituto foi criado para servir o casamento bissexual e portanto a união, admissível, entre duas pessoas do mesmo sexo deve ter outro nome e outras características. Na Quadratura do Círculo de ontem, esse foi o único argumento usado por Lobo Xavier, repetido até à exaustão, à falta de outros.
Acontece que esse argumento é falacioso. Primeiro, porque representa, em si mesmo uma capitulação. Trata-se de defender uma posição com um detalhe quando não se tem coragem de puxar do essencial. Admitir que duas pessoas do mesmo sexo devem poder constituir uma família com os mesmos direitos e deveres de um matrimónio mas não lhe podem chamar "casamento" é reduzir a questão a um problema de nomenclatura. Se a união de Teresa e Helena, qualquer que seja a designação, lhes permitir fazer o IRS em conjunto, abrir conta conjunta no banco, partilhar os bens adquiridos, deixar herança, etc, etc; então o que é que distingue essa união do casamento bissexual? A possibilidade de adopção? Parece pouco. O que os opositores do casamento homossexual gostariam de ter coragem para dizer que distingue o casamento de uma união homossexual é o tipo de relação sexual entre os membros do casal. O que os opositores do casamento homossexual gostariam de dizer e não dizem é que um está conforme com as leis de Deus e da natureza e o outro não. Porque isso é políticamente incorrecto, dizê-lo requer coragem e envolve confronto.
Mas isso é precisamente o que se exige. Ou o comportamento homossexual é considerado um desvio e uma doença, e então deve ser tratado e não tolerado (e muito menos "sacralizado" pelo matrimónio). Ou, pelo contrário, o comportamento homossexual é "normal", não tem qualquer influência na maneira de ser de quem o adopta e então os direitos da pessoa homossexual não podem ser nem um mílímetro diferentes dos de qualquer outra pessoa, incluindo o direito à adopção. Se Lobo Xavier considerar que uma pessoa homosexual pode ter, independentemente disso, o mesmo equilibro e maturidade pessoal que ele tem, então não pode deixar de admitir que ela ou ele possa aceder a todos os institutos a que ele acede, e possa mesmo querer sagrar religiosamente o seu matrimónio (religiosamente, não catolicamente). E, nesse caso, não pode deixar de concordar também que a pessoa seja capaz de criar um filho com o mesmo grau de responsabilidade que um heterossexual maduro.
É evidente que o comportamento homossexual é contra-natura (não permite gerar descendência...). Essa é que é a questão fundamental. Todas as outras são-lhe acessórias. Mas, pegando na questão fundamental do ponto de vista filosófico, quantas das actividades humanas não são contra-natura? Quantos detalhes da nossa existência quotidiana de hoje podemos dizer que estão "de acordo" com a Natureza? Muito poucos certamente. E provavelmente cada vez menos. A Natureza é uma emanação de Deus, assim como o Homem. Mas, ao moldar a Natureza à sua imagem, o Homem, a pouco e pouco e em progressão, faz-se Deus ele próprio. Hegelianamente (se é que não estou a fazer uma leitura errada de Hegel), o Homem consumará a sua vocação divina no momento em que tiver o controlo de todo o mundo físico. E já faltou mais. Nesse longo caminho que vimos percorrendo, a instituição do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como muitas outras coisas que não estavam inscritas na Natureza e que nós escolhemos inscrever, é apenas um pequeno passo.
....
ADENDA
(Ok, ok... eu prometo que não volto a tomar aqueles comprimidos coloridos!)
Acontece que esse argumento é falacioso. Primeiro, porque representa, em si mesmo uma capitulação. Trata-se de defender uma posição com um detalhe quando não se tem coragem de puxar do essencial. Admitir que duas pessoas do mesmo sexo devem poder constituir uma família com os mesmos direitos e deveres de um matrimónio mas não lhe podem chamar "casamento" é reduzir a questão a um problema de nomenclatura. Se a união de Teresa e Helena, qualquer que seja a designação, lhes permitir fazer o IRS em conjunto, abrir conta conjunta no banco, partilhar os bens adquiridos, deixar herança, etc, etc; então o que é que distingue essa união do casamento bissexual? A possibilidade de adopção? Parece pouco. O que os opositores do casamento homossexual gostariam de ter coragem para dizer que distingue o casamento de uma união homossexual é o tipo de relação sexual entre os membros do casal. O que os opositores do casamento homossexual gostariam de dizer e não dizem é que um está conforme com as leis de Deus e da natureza e o outro não. Porque isso é políticamente incorrecto, dizê-lo requer coragem e envolve confronto.
Mas isso é precisamente o que se exige. Ou o comportamento homossexual é considerado um desvio e uma doença, e então deve ser tratado e não tolerado (e muito menos "sacralizado" pelo matrimónio). Ou, pelo contrário, o comportamento homossexual é "normal", não tem qualquer influência na maneira de ser de quem o adopta e então os direitos da pessoa homossexual não podem ser nem um mílímetro diferentes dos de qualquer outra pessoa, incluindo o direito à adopção. Se Lobo Xavier considerar que uma pessoa homosexual pode ter, independentemente disso, o mesmo equilibro e maturidade pessoal que ele tem, então não pode deixar de admitir que ela ou ele possa aceder a todos os institutos a que ele acede, e possa mesmo querer sagrar religiosamente o seu matrimónio (religiosamente, não catolicamente). E, nesse caso, não pode deixar de concordar também que a pessoa seja capaz de criar um filho com o mesmo grau de responsabilidade que um heterossexual maduro.
É evidente que o comportamento homossexual é contra-natura (não permite gerar descendência...). Essa é que é a questão fundamental. Todas as outras são-lhe acessórias. Mas, pegando na questão fundamental do ponto de vista filosófico, quantas das actividades humanas não são contra-natura? Quantos detalhes da nossa existência quotidiana de hoje podemos dizer que estão "de acordo" com a Natureza? Muito poucos certamente. E provavelmente cada vez menos. A Natureza é uma emanação de Deus, assim como o Homem. Mas, ao moldar a Natureza à sua imagem, o Homem, a pouco e pouco e em progressão, faz-se Deus ele próprio. Hegelianamente (se é que não estou a fazer uma leitura errada de Hegel), o Homem consumará a sua vocação divina no momento em que tiver o controlo de todo o mundo físico. E já faltou mais. Nesse longo caminho que vimos percorrendo, a instituição do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como muitas outras coisas que não estavam inscritas na Natureza e que nós escolhemos inscrever, é apenas um pequeno passo.
....
ADENDA
(Ok, ok... eu prometo que não volto a tomar aqueles comprimidos coloridos!)
A multiplicação das caricaturas
O facto de vários jornais europeus terem reproduzido caricaturas na linha das publicadas na Noruega, embora provavelmente não intencionalmente orquestrada, dá ao mundo islâmico a mensagem certa: na defesa da liberdade de imprensa, há muitos focos de resistência por toda a Europa. Os noruegueses não estão sozinhos. As reacções fundamentalistas, a existirem, têm muitos alvos a abater.
Claro que o risco neste tipo de solidariedades espontâneas é tornar a questão civilizacional em vez de particular. Mas o correcto não é evitar as caricaturas porque elas ofendem o mundo islâmico; o que é preciso é manter a defesa irredutível da liberdade e esperar que essa liberdade encontre eco dentro do mundo islâmico. Não por qualquer superioridade cultural, mas sim porque a lei dos homens manda mais no mundo dos homens do que a lei dos deuses. Quaisquer deuses.
Claro que o risco neste tipo de solidariedades espontâneas é tornar a questão civilizacional em vez de particular. Mas o correcto não é evitar as caricaturas porque elas ofendem o mundo islâmico; o que é preciso é manter a defesa irredutível da liberdade e esperar que essa liberdade encontre eco dentro do mundo islâmico. Não por qualquer superioridade cultural, mas sim porque a lei dos homens manda mais no mundo dos homens do que a lei dos deuses. Quaisquer deuses.
O conto de fadas mais curto do mundo
Era uma vez um rapaz que perguntou a uma rapariga:
- Queres casar comigo?
Ela respondeu:
- NÃO!
E o rapaz viveu feliz para sempre. Caçou, foi à pesca, teve sempre tempo
para ver os jogos na Sport TV, bebeu a cerveja que quis, voltou para casa
sempre à hora que lhe apeteceu e ninguém lhe chateou a cabeça...
Fim
(recebido por e-mail)
- Queres casar comigo?
Ela respondeu:
- NÃO!
E o rapaz viveu feliz para sempre. Caçou, foi à pesca, teve sempre tempo
para ver os jogos na Sport TV, bebeu a cerveja que quis, voltou para casa
sempre à hora que lhe apeteceu e ninguém lhe chateou a cabeça...
Fim
(recebido por e-mail)
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
Exercício de cidadania
Eis o que para realmente serve um blogue: o Viver na Alta de Lisboa retrata, desde Junho de 2005, as preocupações e anseios dos respectivos habitantes. Um verdadeiro exercício de cidadania. Outro, do mesmo género, ali citado é o jornal da praceta. Não tenho dúvidas que é com pequenas coisas destas que se faz um país melhor. São ambos exemplos a seguir.
(via Canhoto)
(via Canhoto)
A profissionalização da blogosfera
Um interessante par de posts (aqui e aqui) sobre a recomposição da blogosfera, no Telescópio, da autoria de Tiago Alves. A ler.
(via Blasfémias)
(via Blasfémias)
A vida dos cães
Durante anos os clubes de futebol andaram a alimentar uma matilha de cães raivosos para assustar os adversários. E agora admiram-se que eles se voltem contra o dono? Então isso não era mais do que evidente?
E, nesta matéria, todos sem excepção têm telhados de vidro. As claques organizadas do Benfica já assassinaram adversários com very-light, já distribuiram navalhadas pela província e já espancaram quem se lhes atravessou pela frente. As claques do F.C.Porto já roubaram áreas de serviço, já desafiaram dirigentes de outros clubes e já ameaçaram de morte a família do seu próprio treinador. Os adeptos do Sporting também já pilharam aqui e ali, já impediram a contratação de um treinador e ainda recentemente entraram na academia para "reunir" com os capitães e dizer mal do treinador (antes de entrarem à força na SAD para que ele fosse despedido). E nenhum dirigente de qualquer dos clubes achou que lhes estava a dar demasiado poder senão mesmo importância.
Ninguém entende porque razão esta corja recebe subvenções dos clubes, tem descontos nos bilhetes e dispõe de instalações nos estádios. Estou com Joel Neto: por mim acabava todo o tipo de apoio às claques. E estou em crer que pelos dirigentes também. Só que, se antes alimentavam a matilha por interesse, agora acredito que o fazem por medo. São burros, portanto.
E, nesta matéria, todos sem excepção têm telhados de vidro. As claques organizadas do Benfica já assassinaram adversários com very-light, já distribuiram navalhadas pela província e já espancaram quem se lhes atravessou pela frente. As claques do F.C.Porto já roubaram áreas de serviço, já desafiaram dirigentes de outros clubes e já ameaçaram de morte a família do seu próprio treinador. Os adeptos do Sporting também já pilharam aqui e ali, já impediram a contratação de um treinador e ainda recentemente entraram na academia para "reunir" com os capitães e dizer mal do treinador (antes de entrarem à força na SAD para que ele fosse despedido). E nenhum dirigente de qualquer dos clubes achou que lhes estava a dar demasiado poder senão mesmo importância.
Ninguém entende porque razão esta corja recebe subvenções dos clubes, tem descontos nos bilhetes e dispõe de instalações nos estádios. Estou com Joel Neto: por mim acabava todo o tipo de apoio às claques. E estou em crer que pelos dirigentes também. Só que, se antes alimentavam a matilha por interesse, agora acredito que o fazem por medo. São burros, portanto.
Vida de cão
Percebo a ironia de Fernando Alves nos seus Sinais de hoje (audíveis aqui) e concordo com ela. Mas, na sua aparência de fait-divers colateral, a notícia de que uma empresa neo-zelandesa de comida para cães ofereceu 42 toneladas de alimento para as famintas crianças do Quénia (prontamente recusadas pelo governo local) é desarmante e desafiante.
Porventura será melhor que as crianças morram à fome? Porventura será melhor que se alimentem do que quer que consigam encontrar nas imediações, por mais prejudicial que lhes seja? Alguém dúvida que muitas delas passarão primeiro por isto e para depois chegarem aquilo? Para lá da fome não há nada senão a morte. E para a evitar todos os meios são legítimos.
O que nos deve preocupar, a todos, os que têm cães e os que não têm, é que a questão se chegue a colocar. Podemos dormir descansados, podemos pôr comida aos nossos animais, podemos pensar nas minudências da nossa vidinha sem nos lembrarmos que há crianças com fome? Podemos admitir que a resposta seja sim? Sim?
Porventura será melhor que as crianças morram à fome? Porventura será melhor que se alimentem do que quer que consigam encontrar nas imediações, por mais prejudicial que lhes seja? Alguém dúvida que muitas delas passarão primeiro por isto e para depois chegarem aquilo? Para lá da fome não há nada senão a morte. E para a evitar todos os meios são legítimos.
O que nos deve preocupar, a todos, os que têm cães e os que não têm, é que a questão se chegue a colocar. Podemos dormir descansados, podemos pôr comida aos nossos animais, podemos pensar nas minudências da nossa vidinha sem nos lembrarmos que há crianças com fome? Podemos admitir que a resposta seja sim? Sim?
O que faz correr Vasco?
Finalmente VPV chegou à blogosfera e está tudo em polvorosa. Já aqui elogiei a capacidade e criatividade do seu olhar sobre a actualidade, e a forma como casa na perfeição com a blogosfera. VPV e a blogosfera foram feitos um para o outro e provavelmente viverão felizes para sempre.
Mas, estou- julgo que estamos todos - ansiosamente à espera que, finalmente, com a produção acrescida que um blogue implica, VPV diga bem de alguma coisa. Recuso - julgo que recusamos todos - que não haja possibilidade de redenção para o nihilismo de VPV. Até ao momento, os posts de VPV seguem a doutrina habitual, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui, com a perspicácia e criatividade com que os comuns mortais apenas podem sonhar. Sem supresa e portanto com deleite para quem lê e veneno viperino para quem é visado.
Mas, tal como Sammy descobriu, só e abandonado, o que o fazia correr, também um dia VPV encontrará a salvação num post da blogosfera. Nesse dia quero estar presente e testemunhar o milagre.
Mas, estou- julgo que estamos todos - ansiosamente à espera que, finalmente, com a produção acrescida que um blogue implica, VPV diga bem de alguma coisa. Recuso - julgo que recusamos todos - que não haja possibilidade de redenção para o nihilismo de VPV. Até ao momento, os posts de VPV seguem a doutrina habitual, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui, com a perspicácia e criatividade com que os comuns mortais apenas podem sonhar. Sem supresa e portanto com deleite para quem lê e veneno viperino para quem é visado.
Mas, tal como Sammy descobriu, só e abandonado, o que o fazia correr, também um dia VPV encontrará a salvação num post da blogosfera. Nesse dia quero estar presente e testemunhar o milagre.
Análise do derby no quadro actual do futebol português
Agora já é possível fazer uma análise fria e racional sobre (ou suscitada por) o que se passou no sábado passado, no derby Benfica-Sporting. E porque a análise transcende o "chuta na bola vs. entrada de carrinho" habitual, justifica-se que a faça aqui.
É verdade que o resultado (e sobretudo o jogo) foi supreendente. Mas estou em crer que foi ainda mais surpreendente para os sportinguistas do que para os benfiquistas. Nos dias anteriores ao jogo criou-se um clima global de superioridade do Benfica sobre o Sporting no qual aparentemente toda a gente acreditou (incluindo os sportinguistas) e que espicaçou os jogadores do Sporting, como se viu em campo. Isso explica boa parte do jogo.
A outra parte é explicada por sobranceria do Benfica. E não me refiro tanto - embora ela tenha existido - à sobranceria dentro do campo, mas mais à sobranceria fora dele, nomeadamente no momento da nomeação do árbitro. Durante os 90 minutos houve vários lances em que um julgamento diferente teria dado ao jogo um caminho completamente diferente. Acontece que - arrisco - na altura de nomear o árbitro para este jogo tanto os dirigentes do Benfica como os responsáveis da arbitragem terão pensado que a superioridade era tanta que não havia necessidade de nomear um árbitro "amigo", evitando-se assim também eventuais polémicas, que são sempre maximizadas em jogos grandes. Por isso foi nomeado um árbitro que se pauta pelo famoso "military code" e que por isso instroduziu na equação a imprevisibilidade do falível julgamento humano. Ou seja, julgou sem premeditação, errando numas vezes e acertando noutras.
Mas nem os benfiquistas devem dar o caso como perdido nem os sportinguistas podem criar falsas esperanças. A equipa leonina não deixou de ser jovem, inexperiente (incluindo o treinador) e em parte desequilibrada e, sobretudo - convém não esquecer - vive-se um período pré-eleitoral decisivo que obviamente põe todas as outras questões "on hold". Por isso é muito provável que a irregularidade (de que este jogo afinal também faz parte) se mantenha. Os benfiquistas, por seu lado, podem esperar que a sua equipa regresse rapidamente à "normalidade" assim que o treinador, como habitualmente, ouça a voz da razão contra as suas próprias ideias.
Mas há outra razão para os benfiquistas estarem optimistas. O Benfica tem enormíssimas probabilidades de ganhar este campeonato. Já as tinha no seu início e continua a tê-las agora. O Benfica está hoje na situação em que estavam as sucessivas equipas do F.C.Porto que foram campeãs há alguns anos atrás: joga bem, tem um lote dos melhores jogadores do campeonato, em todas as posições, tem uma estrutura profissional e competente, e, em cima de tudo isso, controla o "sistema". Tal como no tempo de Pinto da Costa, este não é o único factor decisivo, mas é o único factor decisivo que não é desportivo.
Neste momento parece claro que o Benfica "roubou" o controlo do "sistema" ao F.C.Porto. É verdade que ainda há dirigentes das estruturas organizativas do futebol e de alguns clubes que são fiéis a Pinto da Costa. Afinal, são muitos almoços, muitas noitadas e muitas cumplicidades forjadas ao longo de muitos anos. Mas o que as nomeações dos árbitros, os castigos aos jogadores, as votações na liga, as contratações e empréstimos "tácticos", os almoços suspeitos e a "bofetada Moretto" vêm provar é que isso está definitivamente a mudar. Hoje quem manda no futebol português é o Benfica. E como é de Poder que se trata, já toda a gente está a mudar agulhas para o novo pólo de direcção do "sistema", que agora é o pólo sul: dos árbitros aos dirigentes da federação, dos dirigentes dos clubes "pequenos" aos juízes desportivos, até dos jogadores aos técnicos. Não é preciso que a demonstração de Poder seja explícita para que todos os agentes do futebol entendam de onde vem a força nos tempos que correm. Há dois ou três anos atrás ainda se lutava pelo ceptro do Poder no futebol português. Mas este é/foi o ano da viragem decisiva. Por isso, os adeptos benfiquistas podem estar descansados: eles terão o seu título no final da época. Que lhes faça bom proveito!
É verdade que o resultado (e sobretudo o jogo) foi supreendente. Mas estou em crer que foi ainda mais surpreendente para os sportinguistas do que para os benfiquistas. Nos dias anteriores ao jogo criou-se um clima global de superioridade do Benfica sobre o Sporting no qual aparentemente toda a gente acreditou (incluindo os sportinguistas) e que espicaçou os jogadores do Sporting, como se viu em campo. Isso explica boa parte do jogo.
A outra parte é explicada por sobranceria do Benfica. E não me refiro tanto - embora ela tenha existido - à sobranceria dentro do campo, mas mais à sobranceria fora dele, nomeadamente no momento da nomeação do árbitro. Durante os 90 minutos houve vários lances em que um julgamento diferente teria dado ao jogo um caminho completamente diferente. Acontece que - arrisco - na altura de nomear o árbitro para este jogo tanto os dirigentes do Benfica como os responsáveis da arbitragem terão pensado que a superioridade era tanta que não havia necessidade de nomear um árbitro "amigo", evitando-se assim também eventuais polémicas, que são sempre maximizadas em jogos grandes. Por isso foi nomeado um árbitro que se pauta pelo famoso "military code" e que por isso instroduziu na equação a imprevisibilidade do falível julgamento humano. Ou seja, julgou sem premeditação, errando numas vezes e acertando noutras.
Mas nem os benfiquistas devem dar o caso como perdido nem os sportinguistas podem criar falsas esperanças. A equipa leonina não deixou de ser jovem, inexperiente (incluindo o treinador) e em parte desequilibrada e, sobretudo - convém não esquecer - vive-se um período pré-eleitoral decisivo que obviamente põe todas as outras questões "on hold". Por isso é muito provável que a irregularidade (de que este jogo afinal também faz parte) se mantenha. Os benfiquistas, por seu lado, podem esperar que a sua equipa regresse rapidamente à "normalidade" assim que o treinador, como habitualmente, ouça a voz da razão contra as suas próprias ideias.
Mas há outra razão para os benfiquistas estarem optimistas. O Benfica tem enormíssimas probabilidades de ganhar este campeonato. Já as tinha no seu início e continua a tê-las agora. O Benfica está hoje na situação em que estavam as sucessivas equipas do F.C.Porto que foram campeãs há alguns anos atrás: joga bem, tem um lote dos melhores jogadores do campeonato, em todas as posições, tem uma estrutura profissional e competente, e, em cima de tudo isso, controla o "sistema". Tal como no tempo de Pinto da Costa, este não é o único factor decisivo, mas é o único factor decisivo que não é desportivo.
Neste momento parece claro que o Benfica "roubou" o controlo do "sistema" ao F.C.Porto. É verdade que ainda há dirigentes das estruturas organizativas do futebol e de alguns clubes que são fiéis a Pinto da Costa. Afinal, são muitos almoços, muitas noitadas e muitas cumplicidades forjadas ao longo de muitos anos. Mas o que as nomeações dos árbitros, os castigos aos jogadores, as votações na liga, as contratações e empréstimos "tácticos", os almoços suspeitos e a "bofetada Moretto" vêm provar é que isso está definitivamente a mudar. Hoje quem manda no futebol português é o Benfica. E como é de Poder que se trata, já toda a gente está a mudar agulhas para o novo pólo de direcção do "sistema", que agora é o pólo sul: dos árbitros aos dirigentes da federação, dos dirigentes dos clubes "pequenos" aos juízes desportivos, até dos jogadores aos técnicos. Não é preciso que a demonstração de Poder seja explícita para que todos os agentes do futebol entendam de onde vem a força nos tempos que correm. Há dois ou três anos atrás ainda se lutava pelo ceptro do Poder no futebol português. Mas este é/foi o ano da viragem decisiva. Por isso, os adeptos benfiquistas podem estar descansados: eles terão o seu título no final da época. Que lhes faça bom proveito!
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