Este debate acerca da importância a atribuir ao voto em branco é interessante. Os números atingidos são de facto preocupantes, mas na verdade até esperava uma maior votação em branco nesta eleição, uma vez que me parece que houve um conjunto de factores conjunturais que se juntaram às razões estruturais que estimulam o voto em branco.
A principal razão conjuntural, claro, foi o "efeito Santana" combinado com a ausência de alternativas credíveis (os socialistas eram, para muitos dos que votaram em branco, mais do mesmo). A outra razão foi a campanha - rudimentar e bastante localizada mas ainda assim uma campanha - a favor do voto em branco. Terá sido a primeira vez que este voto foi objecto de um approach positivo por parte de um grupo de pessoas, o que terá contribuido, aos olhos de alguns dos que acabaram por votar em branco, para mudar, em parte, a natureza deste voto: de essencialmente negativo para inesperada e surpreendentemente positivo. Ou seja, o voto em branco "institucionalizou-se". Deixou de ser um exotismo e passou a ser uma alternativa eleitoral (ao ponto de já alguém pedir um espaço próprio no boletim de voto!!!).
Mas, para além da conjuntura que envolveu esta eleição, há razões estruturais para o aumento gradual e sustentado do voto em branco (que como se sabe é primo - mas não irmão - da abstenção), das quais a mais importante é o distanciamento entre os eleitores e os eleitos, um fenómeno que, como se sabe, é particularmente evidente em Portugal e em relação ao qual toda a gente parece estar de acordo mas ninguém é capaz de resolver.
É verdade que o voto em branco aumentou, mas, atendendo aos "poderosos" factores conjuturais que estavam a potenciar os factores estruturais, o resultado até ficou aquém das expectativas. Se a situação se repetir no futuro, não tenho dúvidas que votação em branco será ainda mais numerosa.
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