O célebre "centrão" estatístico tem uma existância tão real como o "esquerdão" ou o "direitão". Na verdade, as opções políticas dos eleitores são bastante mais diversificadas e, quando muito, se essas categorias ainda forem válidas, formam um continuum entre a esquerda e a direita.
Em considero-me parte do "esquerdão". Posso votar em qualquer matiz de esquerda ou mesmo numa matiz de direita social-democrata, em função do entendimento que em determinado momento faço da realidade política e das propostas dos vários partidos.
Nesta eleição só o PP e o BE apresentaram propostas políticas claras e só o segundo é de esquerda. Sócrates e Santana estiveram ambos muito aquém do que se espera de um homem que propõe liderar um país e os dois partidos "de governo" falharam redondamente em apresentar porpostas credíveis ou sequer um rumo político claro. Por isso, não votar em nenhum deles é ser exigente com eles. Pelo inverso, votar em qualquer deles apesar da ausência de ideias ou propostas é baixar o nosso grau de exigência enquanto eleitores. E aceitar baixar o nosso graubde exigência é a melhor forma de garantir que as porpostas políticas continuam por baixo.
Por outro lado, as propostas políticas do BE, elogiáveis em si mesmas, são em grande parte utópicas num quadro de consolidação orçamental e de integração europeia. E não vale dizer que o BE não será governo: em primeiro lugar porque, não o sendo, o pode influenciar; em segundo lugar porque votar BE porque o BE não será governo é, isso sim, uma forma de "desresponsabilização do voto".
Resta portanto o voto em branco. Entendido não como uma forma de desresponsabilização. Nem sequer como uma forma de alerta para a incapacidade das forças políticas de se ligarem com os eleitores. Nem sequer ainda como forma de punição dos maus políticos que temos (e de que esta eleição foi paradigmática). Resta o voto em branco como forma de preservar o nosso grau de exigência no momento escolher quem nos governa. Se nenhuma das propostas corresponde àquilo que consideramos o mínimo exigível a um candidato ou a um programa, então o melhor mesmo é votarmos, em consciência, como reflexo disso mesmo: se nenhuma das propostas políticas merece o meu voto, então nenhuma o terá. O resultado colectivo desta eleição será o que será; o meu voto é o o que é: um voto, em consciência.
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