Duas semelhanças entre o voto no BE e o voto em branco são (ainda nesta eleição...) a sua natureza "contra o sistema" e o modo como permitem a quem vota uma certa "desresponsabilização" da decisão colectiva. Quem vota no BE ou em branco sabe (sabia...?) que essa é (era) a melhor forma que poder dizer "não fui eu que os escolhi" acerca da mais do que previsível má governação que resultar das eleições.
O que coloca a questão dos níveis de responsabilização do voto. Eu sou apenas responsável pelo meu voto ou sou também responsável pelo sentido final da eleição independentemente do meu voto? Quem concordar com a segunda afirmação terá tendência a considerar o voto útil. Quem concordar com a primeira vota só segundo a sua consciência e tem uma forte tentação de se desresponsabilizar pelo voto em partidos dos extremos ou em branco (que é o cúmulo do extremismo político).
Neste momento concordo mais com a primeira do que com a segunda. É abusivo imputar a um eleitor qualquer tipo de responsabilidade pelo resultado final de uma eleição. O resultado final de umaa eleição é uma responsabilidade colectiva, nunca uma responsabilidade individual. Por isso, o apelo ao "voto útil" é uma forma de pressão desonesta sobre o eleitor. Cada um deve votar segundo aquilo que acha melhor, independentemente do efeito que acha que o seu voto pode ter ou não ter na decisão colectiva.
Claro que isto também pode ser visto como um raciocínio apologético para quem se prepara para votar "desresponsabilizadamente". Mas a verdade é que o inverso não funciona: se um eleitor decidir alinhar o seu voto em função da sua "utilidade", a verdade é que, não conhecendo antecipadamente os votos dos restantes eleitores, não pode realmente conhecer o efeito do seu voto. E portanto esse será sempre um voto no escuro. Cada eleitor deve votar em função da sua consciência e só em função dela; nunca em função da sua "utilidade" para o resultado final colectivo. Compete ao sistema eleitoral e ao sistema político conseguir gerar as soluções de governabilidade a partir dos resultados eleitorais (dos 25 Estados europeus, apenas 5 vivem com maiorias de um só partido). Se algum desses sistemas não conseguir gerar essas soluções, compete aos partidos propor alterações legsilativas na próxima eleição e compete ao eleitor votar nelas.
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