O debate de ontem, na RTP sobre o "Dia Seguinte" às eleições (que nome tão bem escolhido para um cataclismo...) foi morno e na maior parte do tempo previsível. Mas houve um momento em que realmente emergiu uma questão importante: foi quando um dos economistas liberais advogou, que, grosso modo, os políticos deviam limitar-se a seguir as directrizes impostas pelos indicadores económicos e respectiva interpretação feita pelo economistas, ao que o politólogo presente reagiu afirmando que isso significava o fim da política e que nesse caso as escolhas na verdade se passavam a restringir a uma só. Ou seja, em vez de poderem escolher entre vários caminhos, os políticos, mandatados pelos eleitores, limitavam-se a estar presentes para trilhar o caminho imposto pela racionalidade económica. Na altura lembrei-me de Fukuyama e do seu "O fim da história", que nesta versão bem se poderia chamar "O fim da política". Esta sim era a questão que por si só merecia um debate. A moderadora ainda tentou puxar a discussão para aqui, mas a espuma da actualidade política submergiu rapidamente a questão.
Foi pena. Porque estamos certamente perante um dos traços essenciais das sociedades modernas, da norte-americana à dinamarquesa, passando por todas as que estão no meio, incluindo a portuguesa. O primado da economia sobre a política não é alheio à descrença dos eleitores no sistema político (que, em maior ou menor grau, é um fenómero globalmente ocidental), que se expressa na abstenção; nem é alheio à emergência do neo-liberalismo um pouco por toda a parte (liberalismo e política não combinam). Este é certamente um tema capaz de alimentar a reflexão. Certamente voltarei a ele com mais vagar.
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