segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Primeiras notas sobre uma hecatombe eleitoral

Isto foi de facto uma hecatombe. Ainda a quente, uma mão-cheia de observações:

1. A dimensão da vitória do PS deve ter surpreendido o próprio PS. Claro que em números tão grandes tem que haver mais do que mero voto punitivo. Mas é inegável que o Poder “caiu nos braços” do PS sem que Sócrates verdadeiramente tenha feito algo para o merecer. Resta a “esperança” de que Sócrates tanto gosta de falar e a “responsabilidade” que agora lhe cai nos ombros. Oxalá esteja à altura.

2. Interiormente e secretamente, Louça deve ter respirado fundo quando viu que o PS tinha maioria absoluta e que o BE tinha a expansão que teve. Assim o partido cresce, “desurbaniza-se” e continua a não se comprometer. Aliás, isso mesmo Louça tornou claro na sua declaração, na qual marcou agressivamente o espaço à esquerda do PS.

3. O crescimento do PCP não é mais do que um “balão de oxigénio”. Mal seria se, perante uma tal hecatombe da direita e uma tão grande viragem à esquerda, o PCP continuasse a perder votos. Mas este resultado pode ser também um “balão de oxigénio” para Jerónimo de Sousa usar como capital, a juntar à sua evidente simpatia pessoal, para rejuvenescer e dinamizar o partido, sob pena de ser ultrapassado pelo BE na próxima eleição. Se é que não o começou já a fazer, a avaliar pelas figuras desconhecidas (e num caso claramente abaixo dos 40…) que o secundavam no discurso da noite eleitoral.

4. Serão verdadeiras as lágrimas de Paulo Portas? Depois de já o termos visto em Santana e em Sampaio, estará toda a política portuguesa tomada pela esquizofrenia?

5. Paulo portas saiu com dignidade. Saberemos no futuro se com segundas ou com terceiras intenções, mas o acto de saída merece aplausos, como muitos dos seus actos políticos dos anos mais recentes.

6. O discurso de Sócrates, à beira de ser indigitado primeiro-ministro de um país cheio de problemas, foi quase inteiramente virado para dentro do partido. Mais um indicador preocupante de que este homem está longe de saber de que o país precisa. Como ele próprio diria: “haja esperança…”

7. Como bem notou Miguel Sousa Tavares, atrás de Sócrates seguiam, “como lapas”, algumas das mais odiosas figuras da história recente do partido socialista.

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