segunda-feira, fevereiro 21, 2005

A "guerra civil" no PSD

A “guerra civil” para a qual se contam espingardas no PSD, não é uma guerra fratricida entre irmãos: é na realidade uma guerra entre dois partidos que convivem num só desde que Sá Carneiro teve o poder federador para os unir. Mas que na realidade, sob o manto de sucessivas maiorias e governos, ainda são dois.
Santana sempre se reclamou da herança espiritual do PPD e, em grande parte, a reacção anti-Santana dentro do PPD/PSD foi uma reacção dos militantes do PSD, para os quais o liberalismo económico (começado muito antes de Santana), ainda era aceitável, mas o populismo político era verdadeiramente inadmissível. A teoria da vitimização de Santana tem como objecto expresso alguns barões identificados (com Cavaco à cabeça), mas dirige-se implicitamente a todo o PSD e é o PSD que Santana pretende desafiar nas urnas do congresso. Santana sente portanto que está apenas a defender o “seu” partido. Os outros que defendam o “deles”. Que é provavelmente o que vai acontecer no Congresso.
E, podemos pasmar-nos ou não, mas Santana pode ganhar! E se Santana ganhar, alguns barões e muitos militantes vão sair do partido e, com isso, o PSD vai sair do PPD e os dois partidos que hoje convivem num só aparentemente contra-natura vão assumir a sua verdadeira natureza.
Disso não virá mal ao mundo. Ninguém disse que o sistema partidário português tinha que ter quatro partidos (como o BE prova), nem sequer apenas dois partidos à direita.
Claro que, do ponto de vista da formação de maiorias, isso não interessa nem ao PPD nem ao PSD. E por isso é que só o carácter “irracional” de Santana Lopes permitiu levar a situação até este ponto. Ninguém no seu perfeito juízo, ao longo de toda história do PPD/PSD, arriscou ou arriscaria levar a confrontação até este ponto. Mas Santana fê-lo. E agora o partido está à beira do abismo. Resta saber se vai dar o passo em frente.
Na sua imprevisibilidade, Santana é bem capaz de o fazer, e não se vê quem, do lado do PSD, possa evitar que esse passo seja dado. A não ser Cavaco, se o facto de há muito ter tomado lado nesta “guerra” não lhe tiver tirado ainda todo o capital político que ainda tinha para re-federar o partido. Daí a dramatização lançada por Pacheco Pereira, claramente um apelo a Cavaco para “salvar” o partido. Porque Pacheco Pereira há muito que percebeu o que está em causa (aliás, se não estou em erro, foi o primeiro a fazê-lo).
Se Cavaco avançar para a Presidência e for ao congresso apoiar o “seu” candidato a presidente do partido, talvez Santana não consiga os míseros dois ou três apoios que considerará suficientes para iniciar mais uma corrida suicida, agora para Belém. Se Cavaco for ao congresso, mas ainda assim alguns delegados não lhe perdoarem as patifarias que tem feito ao partido, Santana avança na mesma. Se Cavaco faltar ao congresso (pessoalmente ou por interposta pessoa: Marques Mendes, PP, Ferreira Leite?), então o caminho fica aberto para Santana e todos os outros “baronetes” serão impotentes para o travar.
O que significa que podemos muito bem ter dois candidatos de centro-direita nas próxima presidenciais. Santana sempre o quis e agora quere-lo ainda mais por sentimento de vingança em relação a Cavaco, que considera o grande responsável pela débacle de ontem. Cavaco, se o quiser, sabe que mesmo assim pode ganhar facilmente ao agonizante Santana uma passagem à segunda volta e, de forma mais renhida, pode ganhar a Guterres a ronda final. Mas, do ponto de vista partidário, uma tal divisão entre o PPD e o PSD dificilmente aconteceria sem deixar marcas: ou a separação pura e simples entre ambos, ou o desaparecimento por longos anos da facção perdedora, recatada a lamber as feridas abertas na luta.

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