quarta-feira, junho 22, 2005

A "função social" dos bancos

"A banca não tem que investir em capital de risco, o que nós fazemos são financiamentos."
João Freixa, vice-presidente da CGD

"Estamos numa situação em que a economia está menos fácil e portanto os bancos têm de gerir os riscos."
Artur Santos, presidente do BPI

Se me permitem, não foi nada disso que o presidente disse.

O que Sampaio disse foi que os bancos eram expeditos a dar crédito ao consumo e menos expeditos a dar crédito às empresas. Falou da segunda parte, mas também falou da primeira. Porque será que os bancos agem assim? Será porque o primeiro crédito é mais fácil de recuperar do que o segundo? Ou mais "lucrativo"? Será porque a sociedade civil é fraca e os bancos são fortes e portanto os consumidores individuais (primeiro aliciados e depois abandonados) são presas fáceis?

A promoção do crédito ao consumo desenfreado por parte dos bancos, como muitos outros exemplos na sociedade portuguesa, levanta o problema da responsabilidade social das grandes empresas. Serão as empresas apenas responsáveis por produzir lucros, desde que dentro do respeito pela lei? Ou terão uma responsabilidade social adicional não diferente da de qualquer cidadão individual? Existem sancões sociais para muitas coisas que podemos fazer individualmente e que não são ilícitos civis ou criminais. É normal que hajam e é saudável que hajam. Isso faz parte dos mecanismos normais de funcionamento de uma comunidade organizada.
Pois bem: as empresas em geral e os bancos em particular não estão (ou não deviam estar) isentos dessa sanção social. Não duvido que a promoção do crédito ao consumo, com o facilitismo que insinua, cumpre todos os requisitos legais. Mas é socialmente pernicioso e os bancos sabem-no. A concessão de capital de risco, pelo contrário, é economica e socialmente decisivo para Portugal e isso os bancos também o sabem. Então porque não transferir assumpções de risco do primeiro para o segundo apartado? Não corresponderia isso a um melhor exercício da sua "função social"? Foi isso que o Presidente sugeriu e a isso os dirigentes bancários só ainda em parte responderam.

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